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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Deixando 2021...

Chegou aquele momento de fazer minha lista dos melhores do ano (considerando os que eu consegui ver, claro):


01. Tick, Tick... Boom!

02. Amor, Sublime Amor

03. Um Lugar Silencioso: Parte II

04. Ataque dos Cães

05. A Escavação

06. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

07. Oxigênio

08. O Mauritano

09. Em Um Bairro Em Nova York

10. Tempo


Menção honrosa (não sei se é tão correto classificar como "filme, mas certamente estaria entre os 10 mais):


     In & of Itself


Se fosse para considerar também os de 2020 que foram lançados aqui no Brasil (ou no streaming) somente em 2021, a lista ficaria assim:

01. Meu Pai

02. Tick, Tick... Boom!

03. Amor, Sublime Amor

04. Um Lugar Silencioso: Parte II

05. Uma Noite em Miami...

06. Ataque dos Cães

07. A Escavação

08. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

09. Memórias de Um Amor

10. Oxigênio


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O processo da criação


O diferencial de Tick, Tick... Boom é que mesmo quando não é um musical, o seu drama, essencialmente sobre propósito e finitude, é envolvente e inesperadamente profundo. Eu desconhecia a história de Jonathan Larson, sabia apenas que era o cara que revolucionou a Broadway com Rent, e logo entendi por que sua jornada de esforço e sacrifício para viver de arte atraiu Lin-Manuel Miranda a estrear na direção - e por que o resultado é tão autêntico e transpira paixão. Embora não tenha nenhum número musical grandioso,  existem alguns memoráveis - construídos na base do talento de Andrew Garfield, dos coadjuvantes e de uma edição bem pensada.

Tick, Tick... Boom! (idem), 2021




Não que seja competição e que ambos não possam coexistir perfeitamente, mas sendo musicais com a temática de comunidade latina vivendo em um bairro de Nova York, é impossível não comparar Em Um Bairro Em Nova York a Amor, Sublime Amor. De um modo geral o longa de Spielberg é um feito cinematográfico muito maior, mas este de Jon M. Chu consegue ser superior quando abraça o realismo fantástico típico de alguns musicais. Assim seu inventivo dueto numa sacada "ganha" do tradicional de Amor, Sublime Amor, mesmo que não seja protagonizado pela dupla central do filme (que também é mais carismática e tem mais química que Tony e Maria). A tocante e simbólica sequência de Paciencia y Fé da Abuela Claudia é outro exemplo de destaque das escolhas feitas por Chu.

Em Um Bairro Em Nova York (In The Heights), 2021




Escrito pelo brasileiro Edson Oda, marcando também sua estreia na direção de longas-metragens, Nove Dias é um filme impossível de se descrever sem cair no território de spoilers. Talvez o gênero certo aqui seja fantasia, mas o filme embasa sua premissa da forma mais realista possível enquanto, mesmo parecendo "pequeno", filosofa sobre algo tão grande quanto a vida em si. No entanto, seu ritmo mais lento e seu desfecho poético dão um ar de 'filme arte' que agrada somente a nichos específicos.

Nove Dias (Nine Days), 2021




domingo, 26 de dezembro de 2021

Sinais dos tempos no passado, presente e futuro



Se com A Grande Aposta e Vice, Adam McKay conseguiu brilhantemente transformar temas pouco cinematográficos (para não dizer chatos) em grandes obras da sétima arte é decepcionante constatar que ele também transformou algo emocionante em bastante sem graça. Os pontos de Não Olhe Para Cima, externados por um grande elenco, são relevantes e super atuais, mas o roteiro e a edição quase que não dão conta de criar uma dinâmica ágil nesta sátira que é bem mais longa que deveria e bem menos cativante que poderia.

Não Olhe Para Cima (Don't Look Up), 2021




Um dos grandes erros de Matrix Reloaded, e que depois Matrix Revolutions não conseguiu sustentar, foi se levar a sério demais e tentar aprofundar mais na mitologia do "universo" Matrix. O mais recente Matrix Resurrections surge quase duas décadas depois aparentemente com ciência disto e se arrisca num tom bem menos sério, cheio de metalinguagem e referências, às vezes quase beirando a autoparódia. Não é um longa que precisava ser feito, mas pelo menos não é como as continuações anteriores, que não deveriam ter sido feitas.

Matrix Resurrections (The Matrix: Resurrections), 2021




Ao mesmo tempo remetendo a e desviando de Rashômon, O Último Duelo usa soberbamente a sua estrutura de três atos para conduzir a narrativa sob três pontos de vista diferentes que vão progressivamente jogando nova luz sobre os personagens e amplificando drasticamente a brutalidade da história. O trabalho pesado está nas mãos de Jodie Comer, cujas nuances nas atuações em cada uma das "versões" são cruciais para dar a devida gravidade aos temas do longa. Muitas vezes difícil de assistir, o alívio é que se trata de uma história da Era Medieval - muito distante da nossa realidade de hoje em dia. (última frase carregada de ironia, absurdamente)

O Último Duelo (The Last Duel), 2021




terça-feira, 14 de dezembro de 2021

East end boys and West Side girls


Sim, é aquela velha história do amor proibido de Romeu e Julieta e, sim, são aquelas mesmas canções que todos já conhecem do filme clássico de 1961. Mas ainda assim a nova releitura do musical da Broadway Amor, Sublime Amor é moderna e relevante, em parte pelas mudanças sutis no roteiro e principalmente pela condução de Steven Spielberg, com sequências revigoradas e puramente cinematográficas. Assim como na versão de Robert Wise, quem rouba a cena é Anita, agora interpretada por Ariana DeBose que ainda tem a oportunidade de contracenar com Rita Moreno, a Anita de então. NOTA: não dá para entender como inventaram legendas tão abomináveis aqui no Brasil. Sofrível.

Amor, Sublime Amor (West Side Story), 2021




Com uma fotografia exuberante e um elenco brilhando, Ataque dos Cães é uma gema lapidada lentamente que deixa o espectador sempre em dúvida de qual é a real trama e dos rumos que a mesma vai tomar. Sintomas ou efeitos disto são as aparentes e constantes mudanças de protagonista e algumas guinadas repentinas ou, em primeira avaliação, gratuitas e desmotivadas. Certamente agradando a poucos durante esta jornada desconfortável, a diretora-roteirista Jane Campion recompensa todos que seguirem firmes até o final.  

Ataque dos Cães (The Power of the Dog), 2021




Muito próximo dos clichês e estrutura de um típico filme de superação/ esportes/ biográfico, King Richard: Criando Campeãs agrada mais do que deveria. Parte disto é devido à própria história real, que é realmente envolvente e inspiradora, e principalmente às atuações - não somente do astro Will Smith, mas também de Aunjanue Ellis, que faz a esposa do personagem-título, e das atrizes que interpretam suas filhas - as verdadeiras estrelas do enredo.

King Richard: Criando Campeãs (King Richard), 2021




sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Sem tempo para vingança na noite passada


Embora comece como um thriller psicológico embalado pela música e visual dos anos 1960, Noite Passada em Soho mergulha de cabeça em vários níveis e subgêneros de terror em seu último ato. Coincidência ou não é também quando o roteiro se perde, quebrando a lógica de sua própria história e dando uma boa trapaceada para moldar uma reviravolta final. Ao contrário dos melhores filmes de terror, que possuem uma outra camada, metafórica, o longa não investe em alegorias e escancara seus temas sem cerimônia. Pior, conclui com uma mensagem ambígua, para não dizer duvidosa. Ainda assim, não deixa de ser uma produção envolvente, criativa, muito bem atuada e filmada (primor de direção, fotografia e efeitos nas cenas com espelhos e reflexos).

Noite Passada em Soho (Last Night in Soho), 2021


A franquia 007 sempre oscilou entre altos e baixos e a Era Daniel Craig não foi diferente - para cada Cassino Royale teve um Quantum of Solace, para cada Skyfall teve, bem, a sequência final de Skyfall. A boa notícia é que com o super adiado Sem Tempo Para Morrer, este James Bond, mesmo que um pouco longo demais, termina em alta, conseguindo inclusive fechar arcos de personagens dos filmes anteriores. Não que precisasse. (SPOILER a seguir) E se Cassino Royale começou quebrando várias tradições de um "típico filme de Bond", Sem Tempo Para Morrer também quebra ao optar por um desfecho trágico e definitivo para o personagem. (definitivo pelo menos até o novo e inevitável reboot)

Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die), 2021


Violento, estiloso e nostálgico (homenageando abertamente os western spaghetti), Vingança & Castigo é em essência um filme de vingança tradicional, com ambientação de faroeste. Os alívios cômicos do longa caem bem e, num claro recado de "não me leve muito a sério", amenizam alguns exageros ou problemas de lógica do roteiro. Ainda traz uma perspectiva pouco vista no cinema - a dos negros na era da conquista do Oeste. Opinião impopular: gostei muito mais deste que de Django Livre. Aliás, gostei deste.

Vingança & Castigo (The Harder They Fall), 2021




segunda-feira, 22 de novembro de 2021

De agradar o público sem muito esforço (ou ao menos tentar)


Não havia dúvidas que Ghostbusters: Mais Além seria um prato cheio para os fãs saudosistas. Mas não estava garantido que funcionaria tão bem (não somente a nostalgia) e nem havia indícios que seria tão emotivo. Jason Reitman acerta o tom em cheio e a atriz mirim Mckenna Grace simplesmente brilha em meio a veteranos respeitáveis e efeitos especiais de ponta, mas que preservam o visual dos do filme original. (Nota: eu ainda não acho consigo me acostumar com o título nacional não ser "Caça-Fantasmas", mas acho que o marketing não conseguia superar ficar sem "o" em forma de escudo do fantasminha cortado)

Ghostbusters: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife), 2021




No melhor (e pior) do que se pode esperar de uma Sessão da Tarde, Alerta Vermelho surge como diversão escapista pura, acertando mais na comédia do que na ação e na trama policial. Contando com as figuras carismáticas de Ryan Reynolds, Dwayne Johnson e Gal Gadot, o filme tem a audácia de colocá-los como vilões ou anti-heróis. (Alerta vermelho: SPOILERS a seguir) Mas, acaba não tendo a coragem de sustentar a posição, com um final em que o "bem" vence e nenhum dos três fica tão mal assim.

Alerta Vermelho (Red Notice), 2021




Tom Hanks é reconhecidamente uma pessoa querida e estimada. E isto parece ser o motivo de sua escalação para seus últimos filmes. Com pouquíssimo espaço para desenvolvimento dos protagonistas nos roteiros, os produtores parecem ter encontrado o atalho "coloca então o Hanks que o público já chega cativado". Finch é mais um exemplo disto. Mesmo com visual impressionante e uma produção de primeira, o filme só funciona se o público conseguir criar um elo emocional com os personagens. E este elo só vem porque conhecemos Hanks, não Finch.

Finch (idem), 2021




sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Baseados, inspirados ou motivados em fatos reais

 

Um drama de espionagem à moda antiga, O Espião Inglês se beneficia de ser um "baseado em fatos reais", mas pouco conhecidos. Claro que a tensão não está só na curiosidade pelo desfecho, mas também pela boa construção dos personagens através de sua história de amizade, apoiada em mais uma excelente atuação de Benedict Cumberbatch. 

O Espião Inglês (The Courier), 2021




Um elenco sólido, liderado por Ruth Wilson e pelo sempre excelente Andrew Scott, ajuda a dar brilho aos bons diálogos arquitetados para Oslo. Mesmo que não se livre totalmente das amarras de uma adaptação de peça teatral, esta dramatização dos históricos encontros diplomáticos não oficiais entre palestinos e israelenses consegue até inserir uma boa dose de humor em um tema inerentemente tenso.

Oslo (idem), 2021


Stillwater navega numa água turva de ser ou não inspirado em uma história real (e se for mesmo, é problemático) e não precisava ser tão longo. Ainda assim, a história cativante, os protagonistas improváveis e as escolhas de roteiro não necessariamente óbvias elevam o filme de patamar.

Stillwater (idem), 2021

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Sobre meninos e lobos (ou ambos)


Com um visual meticulosamente concebido, um elenco invejável e uma trilha sonora soberba de Hans Zimmer (às vezes até um pouco demais, a ponto de chamar mais atenção que a cena) Duna é, antes de mais nada, um grande feito que dispensa a (e nos faz esquecer da) existência da desastrosa adaptação de David Lynch. Ainda assim, é um filme que só engrena de fato após a primeira metade e não deixa de ser um pouco frustrante também por necessariamente depender de uma continuação. Não é spoiler dizer isto já que o "Parte 1" como subtítulo logo nos créditos iniciais (que foi escondido nas campanhas de marketing) é um claro presságio para o (pseudo) desfecho do longa (que se dá até de forma "cruel", com uma personagem dizendo "Isso é só o começo"). O alento é que a "Parte 2" acabou de receber sinal verde e vai de fato existir. Mesmo que só em 2023.

Duna (Dune), 2021




Ambientado praticamente em um local e focado em um personagem, O Culpado poderia muito bem ser uma peça teatral ou um podcast de ficção e prova o quanto a qualidade e a entrega do ator são cruciais nestes formatos. O talento de Jake Gyllenhaal conjugado com a condução sólida de Antoine Fuqua extrai o máximo de tensão das limitações de um roteiro que algumas vezes patina com a criação de situações implausíveis. (Comentário SPOILER: não consegui entender a escolha do título - ainda mais em português, que tirou qualquer surpresa da revelação na trama de fundo do protagonista)

O Culpado  (The Guilty), 2021




Em essência um whodunnit com (potencialmente) uma pegada sobrenatural, Um Lobo entre Nós é como uma mistura de Scooby-Doo para adultos com um Os Sete Suspeitos de terror. Muito bem dirigido, o longa só não é exatamente tão engracado assim quanto se acha e certamente se benefecia muito do carisma e da química da dupla principal, Milana Vayntrub e Sam Richardson. Boa diversão para o halloween.

Um Lobo entre Nós (Werewolves Within), 2021


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O amor em carne e osso

 

Desolador, mas otimista sobre os relacionamentos amorosos, Memórias de Um Amor é daqueles raros filmes que transitam entre pontas distintas da condição humana sem ser deprimente nem fantasiosamente auspicioso. A ideia principal já foi (soberbamente) explorada por outro filme antes (resguardo o título para evitar spoiler), mas aqui surge em um pano de fundo curioso e relevante - particularmente considerando que foi escrito, filmado e finalizado antes da pandemia. De baixo orçamento, o longa depende de um roteiro de alto nível e do desempenho acertado do elenco, que inclui Olivia Cooke em atuação digna de premiações. 

Memórias de Um Amor (Little Fish), 2020




Antítese dos "filmes de vingança", Pig é uma produção excêntrica e única que constrói momentos  de pura entrega e perdão genuíno. Mas, mesmo com várias passagens verdadeiramente tocantes, ainda fica parecendo que falta algo para dar liga ao todo. O ritmo lento traz a sensação de que o filme dura muito mais que a sua uma hora e meia, mas também dá palco para uma faceta singular de Nicolas Cage, condito e introspectivo, em um dos melhores desempenhos de sua carreira.

Pig (idem), 2021




Vencidas as camadas inspiradora, motivacional e cômica de No Ritmo do Coração é inevitável constatar os problemas do seu roteiro - principalmente de como equivocadamente acha que está evoluindo nas discussões da comunidade surda. Enquanto o ótimo O Som do Silêncio pontua que a surdez não é uma deficiência a se superar, No Ritmo do Coração constantemente trata seus personagens como aleijados que dependem da protagonista, para servir como mecanismo à sua jornada de amadurecimento. É louvável que tenham escolhido atores surdos na vida real (e eles dão um show), mas é pouco. É necessário algo mais em tela também.

No Ritmo do Coração (CODA), 2021