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terça-feira, 21 de maio de 2019

A guerra após a Guerra

(contém SPOILERS do último episódio de Game of Thrones, mas pelo tanto de meme que você já recebeu até agora, tanto faz)

Não há discussão de que as duas últimas temporadas de Game of Thrones foram mais corridas e perderam qualidade de roteiro. Mas, mesmo com diálogos mais fracos e menos maquinação, é correto afirmar que o fim "estragou" a série? Sou do time que diz que não. Avalio que houve material suficiente para manter a cria da HBO entre as melhores de todos os tempos. E... gostei do desfecho. Amei, achei a melhor coisa do mundo? Não. Mas, gostei de forma sólida.

Só que parece que cometi um crime. Agora, preciso passar pelos pontos mais polêmicos do último episódio, mostrando porque achei que foram coerentes. E eu gostei justamente porque achei que foram coerentes. Impossível convencer alguém a gostar ou não gostar de algo, e nem tenho a pretensão disto. Só quero me justificar perante a acusação de apunhalar pelas costas o senso comum dos fãs internet afora.


Então...

Qual foi a do Jon?
Sempre foi claro que Jon nunca quis se sentar no Trono de Ferro, mesmo antes dos roteiristas passarem a obrigá-lo a dizer isso em voz alta. Mas, mesmo assim, muita gente ainda torcia para ele terminar lá. O chamado, a recusa, as provações, a recompensa e, caramba, até a ressurreição estavam lá. A Jornada do Herói estava mais que desenhada. Mas Game Of Thrones acabou sendo Game Of Thrones, e o arco de Jon terminou, sob este aspecto, de forma anticlimática.
Só que mesmo com essa quebra, Jon Snow ainda foi um grande herói e teve uma conclusão digna.  Esfaquear Daenerys, foi um ato de covardia? Não. Ele terminou como algo que ele sempre foi (ou aspirava ser), nobre. Acima de tudo. Ele se sacrificou, por um bem maior. Matou a pessoa que amava, porque era o correto para o mundo. Um raro momento na série em que alguém não matou por vingança, maldade ou pela disputa pelo poder. Ele fez o que era certo, altruisticamente, sabendo das consequências. Se tivesse sido a Arya a dar a facada, como muita gente queria, ela seria perseguida como assassina, regicida pelo resto da vida. E, SE ela quisesse matar Daenerys, o teria feito. Teve oportunidade muito mais fácil que a do Rei da Noite.
No fim das contas, Jon até termina com um posto condizente com sua grandeza, um Rei Além da Muralha, Mance Rayder 2.0 ou melhor. Há ali um outro mundo inteiro, uma extensão territorial gigantesca e uma quantidade enorme de pessoas. Sem falar que ele  passou a maior parte da série naquele núcleo de "Povo Livre/ Selvagens". E lá se encontrou. (Nem me venham com papo de Azor Ahai, essa coisa que só foi mencionada nos livros e que eu teria achado ridículo tirarem da manga aos 45 minutos do segundo tempo).

Qual foi a de Daenerys, Nascida da Tormenta, a Não Queimada, Rainha de Meereen, Rainha dos Ândalos dos Rhoinares e dos Primeiros Homens, Khaleesi do Grande Mar de Grama, Quebradora de Correntes, Mãe de Dragões, Amante de Sobrinhos Desde Que Não Contem Pra Ninguém, a Que Caiu do Lado Errado da Moeda Targaryen?
Como não tem hospício em Porto Real...

Qual foi a do Drogon?
Num ataque de fúria ele percebeu que o que realmente matou sua mãe não foi aquele homenzinho que estava ao alcance dos seus dentes (caso seu bafo falhasse em queimá-lo), mas sim a busca cega dela por aquele maldito trono de ferro. E o derreteu. Qual o problema? Quem disse que dragão não pode ter sensatez e tino poético?

Qual foi a do Bran?
O Bran ser o novo Rei é mais do que apropriado pois, conforme Tyrion expôs, ele tem "todas as histórias" dentro de si. E consegue ver o passado e o presente. Se isto não for potencial para ser o governante mais justo da história da ficção, eu não sei mais o que é. Claro, existe aquela sensação de "mais do mesmo" ao vermos o Pequeno Conselho reunido discutindo futilidades? Sim, mas com algumas diferenças. Agora é um grupo mais diverso e, aparentemente, mais digno do que antes. E, estão cuidando de futilidades. Tenho convicção de que os poderes de Bran serão decisivos nos assuntos cruciais. Entendo quando muitos enxergam paralelos com nossa política (não somente a nacional, mas a mundial) e este é um filtro difícil de se tirar. Consumimos ficção sempre sob a visão irônica das nossas realidades. Mas, pode ser só o idealista dentro de mim, tenho a esperança de que pelo menos em Westeros a mudança verdadeira vai acontecer, mesmo que lentamente. O que foi instituído pode, em teoria, terminar aquele monte de disputas dentro de famílias, entre famílias e guerras pelo trono. (Nem me venham com teorias de que o Bran é o Rei da Noite ou que ele está manipulando todos, porque é ridículo, incoerente e teria sido tirado da manga aos 45 minutos do segundo tempo).

Qual foi a do Tyrion?
A grande implicância que ouvi por aí foi: por que a decisão que moldou todo o reino surgiu de uma cena improvável em que Lordes deram ouvidos a um prisioneiro? A isto eu respondo: porque Tyrion é o cara. De longe o personagem mais interessante, com direito a indicação ao Emmy para Peter Dinklage em todas as temporadas até agora, rendendo três vitórias e, se justiça for feita e Bran der uma força, com uma quarta no forno. Viram? Tudo tem explicação lógica.

Qual foi a da Sansa e Arya?
Bom, nem preciso mencionar a Sansa já que, junto com Jon afagando o Ghost, ela parece ser a única unanimidade dos fãs (ex-fãs?) da série. Talvez porque todos enxergaram (e a palavra é, mais uma vez) coerência. Com a personagem e com o seu desenvolvimento. Já, com a Arya, alguns tiveram ressalvas. O que é estranho, pois ela sempre esteve "na estrada", sempre teve espírito aventureiro. Se era para dar um final feliz para uma personagem tão estimada, não vejo outra saída melhor. Aliás, as conclusões das irmãs não tinham como ser mais adequadas, seguras e positivas. E ainda renderam uma bela montagem final, com seus destinos interpostos com o de Jon.

Mais uma vez, respeito os que estão chateados (aliás, a única certeza que eu tinha antes da última temporada começar era de que ela iria agradar a poucos). É direito de cada um fantasiar sobre finais alternativos. E muitas grandes obras, com desfechos ambíguos ou em aberto, dependem disto. Mas, Game of Thrones teve um final concreto. A vida segue. E os debates também.

Eu só não quero ser condenado por gostar de algo. Agora, se insistirem, eu exijo Julgamento por Combate!


Game of Thrones (HBO), 2011-2019




(sim, o texto foi só do episódio final, mas a nota é pra série inteira - fazer o quê? aqui não é democracia. Sam bem que tentou)

sexta-feira, 17 de maio de 2019

A jogada final dos Vingadores

(Texto com SPOILERS para Vingadores Guerra Infinita e Ultimato. Mas, pela bilheteria deles, certamente você já assistiu)

Naturalmente, as HQs fizeram parte da minha infância/ adolescência. Talvez por influência do Superman, de 1978, do desenho dos Superamigos na TV nos anos 1980 e do Batman, de 1989, eu tinha uma afinidade maior com a DC Comics. Mas, li bastante Marvel também, com certa predileção por Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e a incrível minissérie Guerras Secretas, que me fascinava por reunir todos os principais heróis numa história única.

Porém, minha estima pelos gibis foi se dissipando por culpa da necessidade da Marvel de entrelaçar suas tramas. Estava lá eu lendo um Homem-Aranha e algo que parecia estar fora do contexto era mencionado. Surgia uma nota de rodapé: *Leia Capitão-América no. 27. Três páginas depois, outra nota: *Leia Vingadores no. 31. O caso era que nem toda banca de revista tinha tudo, a mesada era limitada e eu simplesmente não achava certo ser obrigado a ler um monte de outra coisa para poder acompanhar a história que eu queria. Infelizmente, o mesmo aconteceu comigo com a incursão da Marvel nos cinemas com seu Marvel Cinematic Universe. Começou a ter tanto filme, com tanta "nota de rodapé", que bateu uma preguiça. A verdade, doída, é que não vi exatamente todos os cerca de 20 filmes que deveriam ser assistidos antes dos dois Vingadores derradeiros.

E Vingadores: Guerra Infinita definitivamente está sob este paradigma. Só é possível entender 100% do ponto de partida da história, e do pano de fundo de todos os (incontáveis) personagens, se tiver assistido a 100% dos filmes que o antecederam. Mas, claro, é possível curtir o filme com conhecimento de apenas parte da filmografia do MCU, pois o roteiro usa alguns poucos minutos aqui e ali para dar uma relembrada no (ou situar o) espectador.

E há, sim, bastante o que curtir nesta convergência mágica de personagens, estrelas e narrativas, em uma escala talvez sem precedentes na história do cinema. Mas, há muito. E, julgo, não das coisas certas.

Os grandes momentos da Marvel no cinema quase sempre foram os de desenvolvimento e interação de personagens. A esta altura, as origens estão realmente mais que estabelecidas e muitos heróis estão mais para o fim dos seus arcos do que demandando mais maturação. Mas, ainda há bastante para se explorar no relacionamento daqueles vários egos - sendo o exemplo maior (e as melhores partes de Guerra Infinita) a dinâmica entre Thor e os Guardiões da Galáxia.

Além também de um pouco de Tony Stark "versus" Doutor Estranho e de Wanda e Visão num romance sem graça e nada eficaz em estabelecer a carga emocional necessária para decisões que levam ao clímax do filme, o roteiro se esforça para investir em Thanos.

Ainda assim, a ação em torno do vilão é muito corrida: levou sabe-se lá quantos anos para conseguir uma única Joia do Infinito e agora, duma vezada só, consegue todas. E, mesmo com uma boa atuação de Josh Brolin sob o CGI, seu momento maior de "humanização" não me conquistou, nem me convenceu. Não vi material suficiente nos dois longas dos Guardiões, nem neste, que me fizessem acreditar no tamanho do amor de Thanos por Gamora. Não me pareceu ser uma tarefa árdua para ele o "sacrifício" para conquistar a Joia da Alma, assim como ele não esboçou ser uma alma torturada depois.

A morte de Gamora é, sim, impactante, construída em uma cena bela e dramática. Este impacto, porém, se contrapõe à sensação de provisoriedade das outras mortes que ocorrem, principalmente no 'grande momento' da produção.

Já é sintomático em filme de heróis e a Marvel sabe disso. A morte de Lóki, por exemplo, é precedida por um "Sem ressurreição desta vez" e sucedida por um "Desta vez é definitivo, ele não voltará", para tentar (sem sucesso, no meu ponto de vista) dar algum peso ao que está por vir.

Embora as imagens sejam momentaneamente tocantes, assim que começam a ser revelados quem são os afetados pelo estalar de dedos do Thanos, o filme me perdeu. A obviedade de que haverá uma reversão no próximo Vingadores fica estampada no momento em que são eliminados personagens que já têm suas continuações garantidas, como Pantera Negra, Guardiões da Galáxia, Doutor Estranho e Homem-Aranha. O elemento surpresa e o choque são rapidamente substituídos pelo desânimo de "é, lá vem mais um filme de ressurreição de heróis". Mesmo sem a mínima noção dos (amplamente divulgados) planos da Marvel para as telonas, um espectador imerso consegue ter a mesma percepção: acabou de ver minutos antes Thanos revertendo uma morte, a do Visão.

Fica de fato uma certa expectativa do como vão fazer, mas nenhuma dúvida de que realmente vão. Eu senti mais pelo povo de Gamora no flashback do que pelos protagonistas.

(Até aqui o texto foi escrito antes que eu tivesse visto Ultimato)


E, então, tudo nos leva a Vingadores: Ultimato.

Sob a ótica da família de Gavião Arqueiro, o filme abre ainda no espírito de Guerra Infinita: perturbador num primeiro momento, mas, pela dimensão e pelo "tipo de filme que é", sem margem para dúvida da reversibilidade. E, pelos próximos 15 minutos, assim segue. Na correria e, com Thor decapitando Thanos, no choque seguido da certeza de que nada é definitivo. Afinal, ainda é o começo de um longa de super-herói produzido pela Disney!

Mas, as coisas começam a ficar interessantes e o salto de cinco anos traz um desconforto necessário. Mesmo que a metade da vida do universo volte em algum momento, temos a oportunidade de presenciar o quanto a ausência dela afeta o planeta e, principalmente, os personagens. O filme tira o pé do acelerador e o roteiro cuida de nos situar nas consequências psicológicas e emocionais. À medida que a equipe vai se recompondo para a execução do novo plano, os diretores acertam em construir momentos tenros ou engraçados, calmos e pequenos em escopo, tão escassos em Guerra Infinita.

Os assaltos temporais, como foram batizados pelo Scott, criaram formas inventivas para o público revisitar momentos do MCU sob outros pontos de vista, lembrando bastante De Volta Para o Futuro 2. Isso sem perder o foco nos relacionamentos e em meio a sequências de ação empolgantes.

De uma forma geral, sou um fã de viagem no tempo e, talvez com exceção do contido Crimes Temporais e do confuso e complexo Primer, praticamente é impossível se criar uma história em torno deste tema sem incorrer em furos ou paradoxos. Pensar um pouquinho demais nas ações e consequências do que é feito na maior parte deste filme é ser puramente implicante e esquecer que trata-se de uma obra de entretenimento. Claro que o que o Capitão América faz no final beira o absurdo e dificilmente sustenta a lógica de muita coisa que já aconteceu nestes filmes todos, mas não me importo. Eu me diverti com o que vi e fiquei bem satisfeito que a solução não foi simplesmente fazer o tempo voltar para trás. As mortes acabaram não sendo definitivas, como previsto, mas o impacto daquelas ausências modelou fortemente os que ficaram. E suas decisões.

Avalio que Ultimato é uma conclusão digna para os que encerraram seu ciclo e um bom empurrão para os que continuam suas jornadas. Ainda sinto resquícios de saturação de filmes de super-heróis, mas se lançarem 'Asgardiões da Galáxia' semana que vem, meu ingresso está garantido.


Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War), 2018




Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame), 2019




quinta-feira, 16 de maio de 2019

Agora é pessoal

Agora está assim: se passo mais de um mês sem postar aqui, bate aquela vontade de desistir.

Falta tempo pra assistir, falta mais tempo pra escrever. Nessa última "recaída", me veio à cabeça a frase filosófica que apareceu certa vez num saquinho de chá: "Antes de desistir, lembre-se por que começou."

Como não é recomendado ignorar estes sinais que saquinhos de chá e biscoitos da sorte nos mandam, me recordei que comecei este blog por dois motivos: 1) eu queria parar de chatear as pessoas com tanto assunto de filme, pessoalmente ou por e-mail; e 2) eu queria registrar, pra mim mesmo, que fosse, minhas impressões e comentários sobre filmes, séries, a vida, o universo e tudo mais.

O motivo 1 nunca foi cumprido. Eu não consegui parar de chatear as pessoas com tanto assunto de filme, pessoalmente ou por e-mail (nem, numa segunda geração, por WhatsApp). Aliás, eu não consegui parar de chatear as pessoas, ponto.

O motivo 2 acabou sendo a verdadeira força-motriz do blog. Mas, percebi que acabei me desviando do propósito de fazer algo mais intimista ao tentar imprimir nos textos (que acabaram virando só "parágrafos") uma impessoalidade prepotente, até arrogante.

Afirmações como "o filme é" ou "o espectador percebe", teriam sido mais honestas e humildes, se tivessem sido registradas como "minha opinião é" ou "eu percebo". Talvez assim eu teria tido mais tempo para o blog: não procurando adjetivos para supostamente julgar objetivamente diversos aspectos das produções, mas buscando palavras certas para tentar expor meus sentimentos subjetivos com relação às obras.

Então, a ideia agora é tentar dar continuidade dessa nova forma, mais pessoal.

Sem abandonar o padeçômetro, claro, que vai estar mais para alguma escala de "Não Gostei"/"Gostei" do que a atual de "Ruim"/"Bom". Mas, pra facilitar (e polemizar), vou deixar do jeito que tá...

Assim, vamos lá mais uma vez: O que dizemos para o Deus da Morte dos Blogs?


Hoje não.