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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Sobre o sonho americano



Sucesso absoluto da Broadway, Hamilton foi gravado no teatro no final de 2019 para ser lançado nos cinemas em 2021. Com a pandemia, o mundo ganhou de presente um lançamento pré-maturo em streaming. Particularmente, eu não via como que uma peça musical, fortemente influenciada por rap e hip-hop, sobre a fundação dos EUA, poderia ser interessante. Eu estava redondamente enganado e Hamilton surpreende em vários aspectos, deixando óbvio porque que catapultou ao estrelato Lin-Manuel Miranda, que além de encarnar o papel principal, escreveu e compôs a obra.

Hamilton (Hamilton), 2020






A fotografia deslumbrante do interior do Chile e a atuação instigante (e majoritariamente silenciosa) de Jorge Garcia (o eterno Hurley de Lost) são os pontos altos de Ninguém Sabe Que Estou Aqui. A história traz uma nova perspectiva sobre a ascensão à fama com pouca idade, mas as inserções constantes de trechos de fantasia/ imaginação acabam colaborando para deixar o desfecho mais ambíguo que o desejável.

Ninguém Sabe Que Estou Aqui (Nadie Sabe Que Estoy Aquí), 2020






Com atuações inspiradas e longe de melodramáticas, Tigertail traz novamente às telas a história de imigrantes tentando se conectar no novo país e se adaptar a suas novas vidas. A produção tenta fugir de clichês, mas mesmo assim não consegue oferecer algo de novo no tema. Mesmo tendo só 90 minutos de duração, o filme com seu ritmo lento parece mais longo e, contraditoriamente, parece curto demais para o que queria contar.

Tigertail (Tigertail), 2020



sexta-feira, 17 de julho de 2020

Comédia, terror e ficção em tempos de repetição, isolamento e repetição



Considerando que as reinvenções (ou reboots) de Hollywood pegam um título ou um conceito de um filme reconhecido e enchem de atualidades e novos personagens, pode-se dizer que a nova comédia de Andy Samberg é um reboot de Feitiço do Tempo, mesmo sem ser. Embora Palm Springs tenha aqui ou ali uns bons momentos, o fato é que as desventuras de um cara preso em um mesmo dia que ele detesta sempre parecerão tentativas (sempre frustradas) de recapturar a magia do clássico com Bill Murray. Se sobrou um tempinho no seu dia, melhor simplesmente rever o original.

Palm Springs (Palm Springs), 2020






Seis anos depois de O Babadook eis que surge mais uma diretora australiana fazendo sua estreia em longas-metragens com um terror sólido e fortemente carregado de drama psicológico. Com atuações marcantes do trio principal de atrizes, Relic vai escalando a tensão e abraçando o terror sobrenatural gradativamente, mas acaba, no mesmo passo, escancarando sua metáfora. Enquanto Babadook pedia do espectador um pouco mais de reflexão, este seu conterrâneo expõe seu tema de uma forma bem direta, mesmo que numa conclusão totalmente alegórica.

Relic (Relic), 2020






Para completar a onda, assisti a um filme que é sobre... um casal preso em uma casa, sem contato qualquer com o mundo externo. Com pouco assunto e não conseguindo se esquivar da repetição, Vivarium poderia muito bem ter uns 40 a 50 minutos a menos e ter sido veiculado dentro de uma temporada de Black Mirror ou de Além da Imaginação. Talvez assim desse para sacudir a sensação de que Imogen Poots e Jesse Eisenberg se dedicaram muito por nada. 

Vivarium (Vivarium), 2020




segunda-feira, 13 de julho de 2020

O capitão, a autora e a mercenária



Greyhound é um daqueles filmes que focam em um evento bem específico da II Guerra e, mesmo com um claro problema de orçamento nos efeitos especiais, consegue retratar bem a tensão de um combate às cegas no mar. Porém, elementos como chuva, escuridão da noite, radares com resultados duvidosos, radio-comunicação falha e decisões questionáveis baseadas em instinto vão surgindo ou acontecendo de uma maneira formulista para atrapalhar um protagonista que nada mais tem para fazer que completar sua missão. Tom Hanks ataca de roteirista e entrega pouco para o Tom Hanks ator desenvolver.

Greyhound: Na Mira do Inimigo (Greyhound), 2020






Um dos lançamentos de streaming que surgiram com algum nível de promessa para Oscar, Shirley é vendido como uma análise sobre a problemática autora de terror, Shirley Jackson. Apesar de se aprofundar no psicológico da personagem-título, sob (mais) uma atuação digna de premiação de Elisabeth Moss, o filme é estruturado de forma em que a protagonista é outra personagem e falha em situar de fato quem era Jackson (omitindo, por exemplo, que teve quatro filhos - uma realidade que teria sido muito interessante se explorada pelo roteiro). Em uma mescla de realidade crua com atmosfera de sonho, a diretora Josephine Decker consegue prender a atenção sustentando-se na imprevisibilidade de Shirley e na empatia pelo destino de Rose, mas o que o resultado final deixa mesmo é uma sensação de que nada nos foi acrescentado.

Shirley (Shirley), 2020






Assisti ao novo filme com Charlize Theron, The Old Guard, sem expectativa nenhuma e num fim de sexta de uma semana atribulada no trabalho. Então, mesmo vendo algo dolorosamente previsível e longe do nível da ação de Atômica, até que consegui gostar razoavelmente desta produção que tem conquistado admiradores na Netflix, mas que provavelmente teria sido um fracasso nos cinemas. Desligando o cérebro um pouco, a história diverte, mas também é necessário tampar o ouvido um outro pouco, pois a trilha sonora, mal escolhida, chega a incomodar.

The Old Guard (The Old Guard), 2020



domingo, 5 de julho de 2020

Luz na escuridão


Este texto não traz detalhes, mas contém SPOILERS gerais e significativos do final de Dark.


Resumos explicativos, linhas temporais remontadas e árvores genealógicas comentadas de Dark já existem aos montes, então não vou me arriscar a fazer algo que outros já fizeram tão bem. Vou apenas me ater a tentar expressar meu sentimento geral sobre a série alemã.

Saí da primeira temporada (conforme registrado aqui) com um pouquinho de desconfiança, principalmente com o salto para o ano 2052, que não só surgia sem precedentes, quebrando a simbologia da triquetra (1953-1986-2019), mas também parecia ser um artifício de segurança para os roteiristas terem o que explorar, no caso de renovação para uma nova temporada. Acabou que, se foi isso, souberam me enganar muito bem, pois os saltos para o futuro, e depois para 1920, 1887, funcionaram muito bem abrindo possibilidades interessantes que só fizeram aumentar o que a série sempre fez de melhor: escalada do drama pessoal dos personagens e as reviravoltas das interconexões de cada um, principalmente com suas ascendências e descendências.


No entanto, o fim da segunda trouxe de volta a mesma sensação do fim da primeira, com a abertura para uma realidade alternativa. Passei boa parte da terceira temporada incomodado com (e não dando a mínima para) a narrativa do mundo da Eva e as versões dos personagens dele. Mas, mais uma vez os roteiristas me puxaram o tapete (num bom sentido) e a revelação da existência de um mundo de origem, embora surja também "do nada", me agradou, dando mais sentido à trama geral e devolvendo um (ou mostrando o verdadeiro) significado ao símbolo recorrente da série, a triquetra.

Mais do que isso, o desfecho acabou atingindo um nível emocional que eu não esperava. Depois de tanto pai/mãe matando filho/filha, e vice-versa, foi bonito, e até redentor, o pilar de tudo ser justamente o elo entre pais e filhos. A criação veio da obsessão de Tannhaus por salvar seu filho, bem como a conclusão só foi possível pelo foco de Cláudia em salvar a sua filha.

Dark se despede como uma das melhores séries de todos os tempos. Com alguns furos, sim -impossível quando se aventura em um escopo tão ambicioso. Mas, com um encerramento tão satisfatório, por que se apegar em não haver esclarecimento de coisinhas como quando foi que Noah conseguiu tirar aquela foto limpinho e sorridente com a bebê Charlotte?

Eu hesitei, mas a jornada de três temporadas valeu a pena. Se ainda acha que te devem repostas, que invente uma teoria própria para o que aconteceu com o olho do Wöller no verão passado.

Dark (2a. e 3a. Temporadas), 2019-2020