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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Que faites-vous dans la vie?


Para quem sempre teve um mínimo de curiosidade em saber o que faz aquele monte de pessoas cujos nomes aparecem na tela do cinema enquanto, segurando a bexiga, espera pela cena bônus de um filme da Marvel, o ótimo canal FilmmakerIQ trouxe a resposta. Já tentei, mal e vagamente, fazer uma analogia macro com estrutura de projetos, da organização e do ciclo de uma produção cinematográfica, mas este video traz de forma clara e aprofundada todas as (principais) funções de um filme de grande porte:


Agora dá para entender aquele 'clichê' dos ganhadores do Oscar, "Ai, tem tanta gente pra agradecer...", né?


PS.: o título deste post é uma piada interna e a resposta é "cocô de bebê". Por algum motivo sem explicação, na época em que meu irmão era um bebezinho meu pai falava essa frase em francês ("o que você faz da vida?" ou "com o que você trabalha?"). Sonoramente, a tradução pedia resposta para um "o que fede na vida?"
(ATUALIZAÇÃO: Fui muito bem lembrado de que a resposta correta era também em francês: "C'est la mère des enfants", que sonoramente...)

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Vida efêmera


Vida abre com um plano sequência que, além de esbanjar sua competência técnica e deslumbrar o espectador, serve para criar uma sensação imersiva, provendo ambientação à geografia do local onde se passará a história e introduzindo os personagens (porque, de tão superficial é a passagem, não chega a ser um 'estabelecendo os personagens' - afinal, com tanto rosto conhecido pra que perder tempo com isto?). Esta imersão, somada ao fato de tudo se desenrolar no presente e muito próximo da Terra, é primordial para a cativar o público e intensificar a tensão que está por vir.


Embora as cenas de suspense sejam executadas com primor e genuíno senso de terror (remetendo em vários níveis a Alien - O Oitavo Passageiro), é uma pena que saiam de um roteiro que cai num pecado irritante e, infelizmente, comum: os personagens simplesmente não agem de forma verossímil e constantemente se colocam nas situações de perigo. Não dá para acreditar que todos de um grupo de cientistas-astronautas (altamente qualificados e exaustivamente treinados) hajam sempre de forma passional e quebrando protocolos. É recorrente no filme alguma variação da frase: "Dane-se... eu vou entrar". Provavelmente a vida mais inteligente ali seja a de Calvin, o marciano. E é igualmente estranho como que todos os recursos (principalmente combustível) se esgotam tão rapidamente. E em especial quando eles são a opção do momento para destruir a criatura.

-Leve spoiler no próximo parágrafo-
A sequência final pode deixar muitos confusos, trazendo à tona até a amarga lembrança do Planeta dos Macacos de 2001. Mas, ao contrário do filme de Tim Burton que não importa quantas vezes seja revisto e analisado o seu desfecho continuará sem sentido, uma segunda conferida na conclusão de Vida dá para perceber que a edição foi deliberadamente realizada de modo a enganar o espectador. Uma trapaceada genial.

No fim das contas, a qualidade de Vida não chega no nível Mel Brooks - Que Droga de Vida, e nem atinge Roberto Benigni - A Vida é Bela.

Mas, podia bem ter tentado Danny Boyle - Por Uma Vida Menos Ordinária.


Vida (Life), 2017




quinta-feira, 22 de junho de 2017

O monstro de dentro


Aviso: Colossal é um daqueles filmes, digamos... diferentes e que não agrada a todos. Mas, a experiência de assisti-lo é mais rica quando se sabe o quanto menos sobre o mesmo. Nesta resenha não há spoilers específicos, mas ainda assim é recomendável não ler antes de ver o filme.

Nacho Vigalondo é o diretor-roteirista espanhol responsável por produções independentes como Crimes Temporais, que tem lugar cativo no concorridíssimo panteão dos filmes de viagem no tempo, e Extraterrestre, filme de 2011 que traz uma nova e intimista abordagem sobre invasão alienígena. Talvez por restrições orçamentárias, mas com extremo benefício para suas escolhas narrativas, estes temas grandiosos foram retratados com um escopo mais contido. Já com Colossal, seu segundo longa em língua inglesa, o cineasta mantém a tradição de dar uma nova roupagem a um gênero maior, podendo se aventurar mais com o aumento do escopo, mas sem perder o toque dramático e a meticulosidade no desenvolvimento dos personagens.

Anne Hathaway exercita seu talento ao viver Gloria, uma mulher com uma sucessão de fracassos e problemas, que precisa voltar para sua cidadezinha natal. Lá ela descobre um “poder”: ao entrar num local determinado em um horário específico, sua presença faz surgir um monstro gigantesco em Seul, Coréia do Sul, que repete seus movimentos em tempo real, naturalmente com consequências catastróficas.


Assim como a corrida nuclear, a ameaça química, a tensão comunista, os questionamentos éticos no avanço da genética e a degradação ambiental foram responsáveis (ou as metáforas) para a criação dos monstros cinematográficos em variadas épocas, aqui Vigalondo usa fantasmas bem atuais para a criação de seu(s) monstro(s): o ser humano e suas atitudes individualistas, a inveja, o bullying, a falta de empatia ou até mesmo a total indiferença para com o outro. O próprio ser humano é o responsável pela criação de um monstro em si ou no seu próximo. O ser humano intoxica seu próprio corpo, prejudica sua própria mente e contamina os que estão ao seu redor, sem se importar, sem se preocupar e, muitas vezes, sem sequer notar.

Outra nuance de destaque é como que Colossal também é uma grande manifestação, na sua forma peculiar, de outra temática em voga: o empoderamento feminino. Gloria é uma protagonista alcoólatra e cheia de falhas. Não é, portanto, um exemplo a se seguir, muito menos uma heroína. É possível que seja produto do meio, mas o roteiro se concentra em indicar, diretamente ou com sutilezas, como que todos os personagens masculinos principais à sua volta são tóxicos e prejudiciais à ela. O namorado falha miseravelmente em dar o apoio necessário e correto para a situação, o jovem com quem tem um caso nunca se prontifica a defendê-la, mesmo tendo plenas condições físicas para tal, e o amigo de infância, Oscar, bom... além do óbvio, seria um perfeito estudo de caso para professores de psicologia usarem em suas aulas sobre pessoas dominadoras e relacionamentos abusivos.

Com boas sacadas que acabam bem amarradas ao longo da projeção e deixam o espectador sempre às cegas com os rumos que a história vai tomar, Colossal funciona bem também como filme de gênero (e muito pouco como comédia, embora boa parte do material de marketing insista nisso). Não que esteja isenta de furos - há pontos básicos para implicar, como o fato de não parecer nada plausível que as autoridades sul-coreanas não evacuem e isolem a área da cidade em que o monstro sempre aparece. Mas, a preocupação do longa nunca foi mesmo com o desenvolvimento da mitologia, nem com a explicação da ‘lógica’ criada.

Colossal é um filme de monstro às avessas. Menos foco na destruição, mais espaço pros dramas pessoais. Mais implícito na ação, mais explícito nas metáforas.


Colossal (Colossal), 2017




terça-feira, 6 de junho de 2017

Devo, não nego...


Por uns motivos e outros, assistir filmes ou séries foi algo quase ausente na minha agenda no último mês. Entre aliens, guardiões da galáxia, planos reais, piratas do caribe, cidades perdidas e mulheres maravilhas, tenho perdido quase tudo no cinema. Então, foi hora de refletir se isto é um problema pontual e atual, ou se é algo já sintomático.

Baseado nas minhas listinhas anuais de "filmes mais esperados", parece que não é de hoje que venho falhando comigo mesmo. Tem filme que considerei como prioridade assistir no ano seguinte e que acabei passando longe. Tem até números '2' e '3' das listas!

Vejam bem, muitas vezes há sequer uma sinopse oficial dos filmes quando monto a lista no fim do ano anterior. Daí, quando começam a sair os trailers e as primeiras impressões de público e crítica de alguns, bate aquele desânimo. Tem uns que ainda quero ver, mas a grande maioria vai ficar pro dia de São Nunca mesmo.

O que 'furei' ao longo dos anos:

2009
02. O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
07. Jean Charles
Da lista "correram por fora": Os Fantasmas de Scrooge; O Lobisomem


2010
07. As Viagens de Gulliver
Da lista "correram por fora": Fúria de Titãs; Os Mercenários


2011
05. Gato de Botas
08. Assalto ao Banco Central
10. Os Três Mosqueteiros
Da lista "correram por fora": O Número Quatro; Lanterna Verde


2012
03. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
06. A Viagem
Da lista "correram por fora", todos(!): O Espetacular Homem-Aranha; Guerra Mundial Z; Sombras da Noite; O Corvo; Valente


2013
08. Se puder... Dirija!
Da lista "correram por fora": Jack, o Caçador de Gigantes; Uma História de Amor e Fúria; O Cavaleiro Solitário; Círculo de Fogo; O Hobbit: A Desolação de Smaug


2014
03. O Destino de Júpiter
05. Noé e Êxodo: Deuses e Reis
09. Real Beleza
10. Grandes Olhos e Pelé: O Nascimento de uma Lenda
Da lista "correram por fora": Um Conto do Destino; Planeta dos Macacos: O Confronto; As Tartarugas Ninja


2015
03. Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível
05. Mortdecai: A Arte da Trapaça
08. O Coração do Mar
09. Pixels
10. Vingadores: Era de Ultron e O Exterminador do Futuro: Gênesis e 007 Contra Spectre


2016
02. Silêncio
03. Assassin's Creed
05. Inferno
06. O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares
08. Esquadrão Suicida
09. Ben-Hur



Vamos monitorar 2017, mas parece que dá pra deduzir que não tenho respeito pelos filmes nacionais e que perdi a sintonia com Tim Burton e as Wachowski.

Agora, tem coisa aí que só me faz pensar: onde é que eu estava com a cabeça??? Nessas horas (e em outras também, mas OK) que é bom não ser um Lannister.