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domingo, 17 de março de 2019

Pendências do Oscar e a calmaria que vem depois

  

Sabendo-se a premissa de Homem-Aranha no Aranhaverso, não há como não se apaixonar à primeira vista pelo filme já antes mesmo de começar, quando os logotipos da Sony, Columbia etc começam a se transformar rapidamente nos mais variados estilos de animação de cada um dos Aranhas que vão surgir. Dali pra frente, até a hilariante cena pós-créditos, é só acertos. Recheado de humor e auto-paródia, sem abandonar um peso dramático necessário e honesto com os personagens, Aranhaverso encanta, ao mesmo tempo em que enche os olhos com sua(s) escolha(s) de técnica(s) de animação. Oscar de Melhor Longa de Animação (e praticamente todo e qualquer prêmio de animação da temporada) mais que merecido.

Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse), 2018






Na Farsa, o burlesco prevalece e normalmente a ambientação é reduzida a poucos, senão a um único local. Este é o gênero mais identificável com A Favorita, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz a Olivia Collman. Sua atuação, aliás, foi tida como o carro-chefe da produção, em conjunto com as de Rachel Weisz e Emma Stone, ambas indicadas a Coadjuvante. O que é destoante é que, embora todas as três tenham um trabalho sólido, cada uma parece estar num filme diferente. A personagem de Stone parece saída de uma comédia contemporânea qualquer, Weisz abraça o drama de época e Collman, enfatizando o ridículo, se encontra certamente numa farsa. A opção do diretor Yorgos Lanthimos por um final bizarro e em aberto não só não é mais desestimulante que sua falta de ritmo e que sua decisão confusa de usar grande angular repetidamente.

A Favorita (The Favourite), 2018






ALERTA DE SPOILER PARA CALMARIA (SERENITY) 
Calmaria tem o potencial para desagradar dois grandes grupos de frequentadores de cinema: o dos que se entregam a um filme sob o filtro do seu rótulo e o dos que desconfiam de tudo e procuram pistas sobre as segundas intenções dos realizadores. Sob a ótica do primeiro grupo há uma mudança de gênero no meio do caminho, de drama/ neo-noir/ crime para ficção-científica/ fantasia, ficando mais próximo de um episódio longo e pouco inspirado de Black Mirror. No segundo grupo, até os olhares menos atentos (ou de quem entrou no cinema com 15 segundos de atraso) não conseguem ficar alheios às obviedades de um roteiro que falha em esconder a natureza da realidade que se desenrola na tela. Os elementos que prenunciam a "surpresa" são tão gritantes (e também surgem em cenas que não estão sob a perspectiva do protagonista) que simplesmente fracassa a tentativa de se associar as coisas estranhas a um possível transtorno de estresse pós-traumático (ou simples loucura) de Baker Dill (em mais uma atuação marcante de Matthew McConaughey, diga-se de passagem). E para ambos grupos, e todos os outros que existirem, há ainda uma abominável deixa no epílogo em que um jogo de computador (ou, pior, um pai), com um "às vezes fazemos coisas ruins por boas razões", endossa um adolescente, vítima de bullying ou abuso, assassinar alguém. Inadequado e insensível.

Calmaria (Serenity), 2019