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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Deixando 2020...


Chegou aquele momento de fazer minha lista dos melhores do ano (considerando os que eu consegui ver, claro):


01. Os 7 de Chicago

02. Tenet

03. Dupla da Pixar: Soul e Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

04. O Som do Silêncio

05. O Que Ficou Para Trás

06. A Vastidão da Noite

07. First Cow

08. Wander Darkly

09. I'm Your Woman

10. Destacamento Blood


Menção honrosa (não sei se é tão correto classificar como "filme", mas estaria no topo da lista):

    Hamilton


Se fosse para considerar também os de 2019 que foram lançados aqui no Brasil (ou no streaming - ano maluco) somente em 2020, a lista ficaria assim:


01. A Despedida

02. 1917

03. Hamilton

04. Os 7 de Chicago

05. Jojo Rabbit

06. Tenet

07. Dupla da Pixar: Soul e Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

08. Tel Aviv em Chamas

09. O Som do Silêncio

10. O Que Ficou Para Trás


quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Escapismo do ano do qual parece não ter como escapar...


Baseado no folclore irlandês, Wolfwalkers é um longa de animação tradicional em que praticamente  cada quadro parece uma gravura de um livro infantil belamente ilustrado. A história traz reflexões sobre colonização enquanto entrega mensagens ecológicas  e de empoderamento feminino, numa combinação de espírito Ghibli com essência Disney, mas ainda assim oferecendo uma alternativa encantadora aos outros dois grandes estúdios. 

Wolfwalkers (idem), 2020 




Robert Rodriguez é um cineasta interessante que, entre um filme violento e outro, arranja espaço para fazer filmes infantis exagerados, fantasiosos e que quase parecem caseiros. Seu mais recente, Pequenos Grandes Heróis, é mais um exemplar desses que grudam as crianças na tela com uma aventura predominantemente ingênua e promovem um passatempo inofensivo, e até divertido também, para os pais.

Pequenos Grandes Heróis (We Can Be Heroes), 2020




No formato de um mockumentary (um documentário falso, com atores como se fossem pessoas reais - mas não conhecidas), 2020 Nunca Mais tenta recapitular o ano de 2020 sob uma lente cômica e irônica. Apesar de arrancar umas boas risadas o filme é menos engraçado do que se acha, mesmo porque não dá pra fazer piada com alguns acontecimentos que definiram estes últimos 12 meses. Os principais alvos são essencialmente os fáceis: Trump (e seus seguidores) e Boris Johnson. Com base no tanto de asneira que ouvimos dos nossos políticos por aqui, esta rir(pranãochorar)trospectiva soa bastante incompleta e deixa a desejar.

2020 Nunca Mais (Death to 2020), 2020




segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Desejando filmes mais curtos pro fim deste ano longo...


Depois do prólogo empolgante e que mostra o melhor da diretora Patty Jenkins, mas que, acabamos descobrindo, nada tem a ver com o que estar por vir, Mulher-Maravilha 1984 é, infelizmente, só ladeira abaixo. A premissa de todo o enredo é infantil e boba, até para os padrões de um "filme de super herói". Até divertido em alguns momentos, o filme é desnecessariamente longo com suas duas horas e meia de duração e não chega a ser ruim de fato, apenas decepcionante para quem desejou uma evolução na franquia da DC.

Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984), 2020




O novo filme do diretor George Clooney, O Céu da Meia-Noite, se aproveita muito da experiência do ator George Clooney para captar e expressar os tormentos de um homem solitário e cheio de arrependimentos, em busca da sua humanidade à beira do fim da Humanidade. Embora não seja novidade o uso da ficção-científica para contar de forma grandiosa uma história essencialmente sobre pais filhos (e esta nem seja a melhor produção a fazer isso), Clooney consegue acertar na emoção mais do que errar na lógica.

O Céu da Meia-Noite (Midnight Sky), 2020




Adaptação do clássico literário de Charles Dickens, A Vida Extraordinária de David Copperfield cativa pelas transições inventivas, pela energia e carisma de Dev Patel e pelo tom excêntrico, ingênuo e otimista tão necessário hoje em dia. O ritmo é bom, mas a duração é um pouco longa demais para uma história que basicamente parece mais com uma cinebiografia corriqueira de Hollywood: uma seleção de passagens da vida de um personagem, sem foco na construção e resolução de um conflito.

A Vida Extraordinária de David Copperfield (The Personal History of David Copperfield), 2019




sábado, 26 de dezembro de 2020

Música para a alma


Segundo lançamento da Pixar no ano, e o segundo acerto seguido, Soul prova que o estúdio de animação continua tendo o espírito (vejam só) no lugar certo, com entretenimento que emociona e agrada todas as idades enquanto traz mensagens inspiradoras. A lógica do mundo criado para este longa pode às vezes falhar, mas, a exemplo de Divertida Mente, há tanta criatividade em exibição que pequenos deslizes não atrapalham em nada.

Soul (idem), 2020




Além de seu design de som sublime, outro grande trunfo de O Som do Silêncio é desenvolver um tema "óbvio" (a deterioração da audição devido à exposição constante a ruídos altos), mas fugindo do óbvio, das guinadas narrativas costumeiras. Uma armadilha para clichés e um convite perfeito para o melodrama, o filme consegue evitar tudo isso ao optar por sutilezas e construir uma humanidade realista para os personagens. Riz Ahmed dá um show (perdão do trocadilho) como o protagonista, enquanto o coadjuvante Paul Raci rouba a cena como Joe, uma figura que transborda honestidade e amor genuíno com a luta pelo apoio à sua comunidade. Realizada pré-pandemia, a produção ainda consegue involuntariamente ressoar com a situação atual: a negação e o desespero juntos com o desejo quase cego, e por vezes inconsequente, de que tudo volte ao "normal", a como era antes.

O Som do Silêncio (Sound of Metal), 2020





Tanto o título nacional quanto o original levam a uma expectativa errada de A Voz Suprema do Blues, já que o filme concentra muito mais tempo nos músicos de apoio (fictícios) do que na cantora (real) Ma Rainey, a "mãe do blues". Isto seria um problema ainda maior, não fosse pela personagem de Viola Davis (em grande atuação) ser desagradável e pelo trompetista em destaque na história ser vivido por Chadwick Boseman, simplesmente brilhando em seu último papel. Um Oscar póstumo não seria média nem exagero. Poderoso no discurso, o longa poderia se elevar a outro patamar se conseguisse se desprender das limitações de uma adaptação teatral. E se deixasse o som supremo do blues rolar mais.

A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom), 2020




sábado, 19 de dezembro de 2020

Uma velha história e velhos conhecidos em novas histórias

No geral, O Gambito da Rainha não foge muito de alguns clichés, nem do padrão "menina com infância difícil que se mostra prodígio em algo incomum para a sociedade e cujos problemas pessoais/ comportamentais acabam florescendo na busca por ser a melhor do mundo naquilo". Há inclusive o final escancaradamente hollywoodiano e alguns temas mais sérios (como sexismo no esporte e alcoolismo) são amenizados. Mas, no fim das contas (e talvez por ser amena mesmo, nestes tempos tão obscuros), a minissérie da Netflix agrada bastante com sua produção impecável e boas atuações.

O Gambito da Rainha (The Queen's Gambit - 1a. temporada), 2020






Mesmo retomando a narrativa do ponto onde parou na temporada de estreia, a segunda de Mandalorian não hesita em logo entrar no modo "desafio da semana". O diferencial agora é que a maioria deles acaba servindo à história principal e também criando conexão com os filmes e séries animadas existentes. Desde referências sutis a pontos relevantes de enredo, Mandalorian prova que pode ser o Um Anel que unirá os que desprezam os Episódios I, II, III (eu e todas as pessoas sensatas) e os que odeiam os VII, VIII e IX (os chatos). Jon Favreau e Dave Filoni parecem ser verdadeiramente os que vão trazer equilíbrio à Força e restituir a paz no Universo Star Wars.

The Mandalorian (2a. temporada), 2020




Um dos melhores produtos do final da década de 1990, os irmãos Warner (e a irmã Warner) voltam para uma nova temporada repaginados e atualizados, mas, nas palavras do próprio Yakko no primeiro episódio, "nem tanto, porque os pais agora fazem parte do público-alvo também". É com este tipo de metalinguagem, com referências culturais das mais variadas e um humor que vai do ousado ao pastelão que, mesmo com algumas piadas datadas, a nova leva de Animaniacs prova que algumas coisas merecem, sim, um reboot. Alguns personagens e quadros antigos fazem falta, mas pelo menos Pinky e o Cérebro ajudam a satisfazer a carência dos nostálgicos. Torcer pelo retorno de Freakazoid é demais?

Animaniacs ("1a." temporada), 2020




quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Aparências e relacionamentos enganam


Como se fosse um "isso os filmes de gângster não mostram", I'm Your Woman segue a mulher de um criminoso alheia à extensão do perigo que a cerca e que repentinamente vê sua vidinha limitada socialmente ser sacudida. A direção de Julia Hart dá um ritmo mais lento para a maior parte do filme e, mesmo arriscando parecer um pouco arrastado, toma esta decisão para servir a um propósito narrativo. Bacana também ver Rachel Brosnahan em (mais) uma atuação sólida e bem diferente de sua Maravilhosa Sra. Maisel.

I'm Your Woman (idem), 2020






Colocar os próprios personagens para narrar ou comentar a cena em que estão não é uma novidade, mas em Wander Darkly a diretora-roteirista Tara Miele utiliza o recurso de uma forma orgânica e genial, ajudada por uma edição precisa e pela ótima química entre Diego Luna e Sienna Miller (em uma atuação marcante). O filme tem seus deslizes, mas funciona bem tanto como thriller "sobrenatural x confusão mental" quanto drama romântico. Aplausos adicionais para o trabalho da diretora de fotografia brasileira Carolina Costa.

Wander Darkly (idem), 2020




Parecendo até um O Lobo de Wall Street cru e realista, The Nest foca nas aparências "exigidas" aos que trabalhavam com o mercado financeiro nos meados dos anos 1980 e nos efeitos destas em suas vidas, em suas famílias. Só que o filme demora a mostrar a que veio e só prende pela expectativa de que algo está para acontecer, pois... algo tem que acontecer, certo? O arco dos protagonistas é pouco satisfatório, mas a produção ganha pontos ao acertar as pegadas emocionais e ao evitar clichês do gênero.

The Nest (idem), 2020




sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Nada de tão antigo, nada de tão novo

 

Com uma produção impecável e uma ambientação perfeita, Mank mergulha na Hollywood do final dos anos 1930 - início dos anos 1940, com a história do roteirista Herman J. Mankiewicz enquanto desenvolvia o roteiro de Cidadão Kane para Orson Welles. Apesar de ser um encanto absoluto para os cinéfilos de plantão, o filme se concentra em figuras pouco conhecidas do grande público e falha em criar um elo emocional com os personagens com um subdesenvolvimento dos mesmos na narrativa. Estão perdoados todos que derem longas bocejadas. Cochilar já é exagero.

Mank (idem), 2020




Com uma tradicional dinâmica de gato e rato e pouco a acrescentar sobre a dependência afetiva entre mãe e filha, não há nada especificamente novo em Fuja, suspense que usa as obras mais minimalistas de Stephen King como inspiração. Mas há a coragem da escolha (acertadíssima) de se escalar uma atriz cadeirante para o papel de uma personagem confinada a uma cadeira de rodas. Kieran Allen dá um show de fisicalidade e intensifica ao máximo a tensão das cenas, ofuscando até mesmo a talentosa Sarah Paulson.

Fuja (Run), 2020




A estrela veterana Sophia Loren e o estreante mirim Ibrahima Gueye formam a dupla central de Rosa e Momo, drama italiano sobre o improvável laço entre uma ex-prostituta sobrevivente do Holocausto e um órfão refugiado do Senegal. Apesar das atuações brilhantes, a história é dolorosamente previsível e o diretor, filho de Loren, constrói a trama em cima de clichés, enquanto dá uma maquiada (e talvez até uma glamourizada) em algumas duras realidades.  Impossível não imaginar que este filme pode ter visibilidade no Oscar e não lamentar, por comparação, o destino de Central do Brasil

Rosa e Momo (La vita davanti a sé), 2020




quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O terror sem comédia, o terror meio comédia e a comédia em meio ao terror


O diretor-roteirista Remi Weekes consegue um feito difícil em seu longa de estreia, O Que Ficou Para Trás: juntar dois gêneros e conseguir extrair o melhor que cada um tem a oferecer. O drama de um casal de refugiados em sua "nova vida" é tratado com sensibilidade e relevância enquanto o terror de casa mal-assombrada traz bons sustos e funciona bem no nível metafórico, como todo terror que se preze. Entre os horrores sobrenaturais e os bem reais, há um ponto de virada que fortalece a construção dos personagens e da narrativa enquanto dá um soco no estômago do espectador. Angustiante e implacável, o filme é uma bela empreitada, embora não seja bonito de assistir. 

O Que Ficou Para Trás (His House), 2020




Dosado em quantidades quase homogêneas de terror, comédia e mistério, O Lobo de Snow Hollow é um filme peculiar, que ainda acha espaço suficiente para humanizar a trama com drama pessoal. Funciona curiosamente bem, mesmo que a atuação de Jim Cummings (que assina também a direção e o roteiro) seja confusa, não raramente deixando um borrão no tom das cenas ao transitar entre o admirável e o exagerado sem cerimônia (e, provavelmente, sem intenção).

O Lobo de Snow Hollow (The Wolf of Snow Hollow), 2020




Distante física e emocionalmente, e com pouquíssimo conhecimento de causa, é muito difícil avaliar um filme que usa o conflito entre Israel e Palestina como comédia. Pode ser que Tel Aviv em Chamas esteja dando uma roupagem muito suave e feliz para algo muito sério e que foi/é causa de sofrimento de milhares, sem gerar o efeito de protesto ou exposição típico do humor (especialmente o satírico). Pode ser também que a produção seja tendenciosa. Na minha ignorância, desfruto dessa deliciosa historieta pelos personagens carismáticos e fico apenas feliz de ver que pode ter algo de ingênuo e de esperançoso no dia-a-dia dos que vivem na região, algo além do que nos é bombardeado (perdão do trocadilho) nos noticiários.

Tel Aviv em Chamas (Tel Aviv on Fire), 2019




quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Se não der, tenet outra vez

Mesmo cheio de expectativa, afinal era o novo e ambicioso (como dizia a mídia) filme de Christopher Nolan, cheguei a cogitar esperar Tenet sair em streaming, em vez de enfrentar os riscos de uma sala de cinema. Confiante nos protocolos e determinado nos devidos cuidados, não me arrependi de ter arriscado a desfrutar do filme na tela grande. E com aquele som todo.

Se tem algo inegável nos filmes de Nolan é como eles são cinematográficos e, assim, providos de um visual impressionante e um áudio marcante (mesmo que possa ser acusado de "alto demais"). E em Tenet o diretor parece ter chegado ao seu ápice nesses quesitos, materializando de forma sensorial ideias elaboradas em um filme de ação.

Só que ao contrário de produções como Amnésia, O Grande Truque, A Origem e Interestelar, e mais na linha do recente Dunkirk, Tenet não traz muito além do "sentir e se deslumbrar", deixando pouco para o "analisar e discutir". A complexidade da premissa é executada magistralmente em imagens, mas deixa a desejar nos âmbitos intelectual e emocional. 

Entre um roteiro muitas vezes confuso, que não passa clareza no quê e como está de fato em jogo, e personagens superficiais (o protagonista ser creditado como O Protagonista é sintomático), fica difícil se engajar plenamente com o longa. Certa vez, ouvi que o que faltava em A Origem era uma ameaça maior, algo de escala mundial, em vez de "simplesmente aquela história de competição corporativa". Pois bem, onde A Origem consegue criar um vínculo com o público e prendê-lo emocionalmente não é no objetivo da missão secreta do Cobb de DiCaprio, mas na carga de culpa do seu passado com sua esposa e, principalmente, na tensão de se ele vai conseguir rever os seus filhos. Tenet, infelizmente, não tem nada disto e simplesmente assume que conquistará o espectador só de anunciar que o que está em risco é uma terceira guerra mundial (e depois, pior, o fim do mundo).

De qualquer forma, o longa é o mais inventivo do ano e essencial para qualquer fã de cinema. Afirmar que não figura entre os cinco melhores da carreira do cineasta britânico é tão verdadeiro quanto desleal. Ao realizar algumas das obras-primas da história da sétima arte, Nolan também gerou, com a expectativa de se superar, o fantasma de alcançar o, talvez, inatingível.


Tenet (idem), 2020




sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Comédias em crise existencial (e sem título em português)


On the Rocks é um filme de Sophia Coppola em que uma mulher está em crise existencial com o trabalho e tem dúvidas sobre seu relacionamento amoroso. Sua busca para reencontrar sentido na vida é em companhia de Bill Murray numa megalópole que, mesmo lotada de pessoas, a faz se sentir sozinha e isolada. Exatamente como Encontros e Desencontros, só que numa versão (ainda mais) rasa para um drama e sem graça demais para uma comédia. A distração despretensiosa é garantida pelas 'murrayzadas', mas o resto que acaba sobrando é dispensável.

On the Rocks (idem), 2020





Excêntrica e, por vezes, puramente surreal, Kajillionaire é uma comédia sobre uma família de trapaceiros em dificuldades materiais, cuja jovem filha única passa por um despertar emocional. Alternando entre o bizarro e o sentimental, a diretora-roteirista Miranda July mostra um filme com coração e arranca uma risada aqui e ali, mas agrada somente aqueles que estão abertos a abraçar o não-convencional.

Kajillionaire (idem), 2020




Numa mescla de autobiografia com ficção, a outrora promissora escritora teatral Radha Blank apresenta como diretora, roteirista e atriz em The Forty-Year-Old Version a chegada aos 40 anos de idade com uma carreira longe de ter alcançado seu potencial. Claro que se trata de uma história de amadurecimento e de reinvenção independente da idade, e o humor de comédia predomina, mas o tema e a opção pela fotografia em preto-e-branco embebem o filme em melancolia.

The Forty-Year-Old Version (idem), 2020