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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Se não der, tenet outra vez

Mesmo cheio de expectativa, afinal era o novo e ambicioso (como dizia a mídia) filme de Christopher Nolan, cheguei a cogitar esperar Tenet sair em streaming, em vez de enfrentar os riscos de uma sala de cinema. Confiante nos protocolos e determinado nos devidos cuidados, não me arrependi de ter arriscado a desfrutar do filme na tela grande. E com aquele som todo.

Se tem algo inegável nos filmes de Nolan é como eles são cinematográficos e, assim, providos de um visual impressionante e um áudio marcante (mesmo que possa ser acusado de "alto demais"). E em Tenet o diretor parece ter chegado ao seu ápice nesses quesitos, materializando de forma sensorial ideias elaboradas em um filme de ação.

Só que ao contrário de produções como Amnésia, O Grande Truque, A Origem e Interestelar, e mais na linha do recente Dunkirk, Tenet não traz muito além do "sentir e se deslumbrar", deixando pouco para o "analisar e discutir". A complexidade da premissa é executada magistralmente em imagens, mas deixa a desejar nos âmbitos intelectual e emocional. 

Entre um roteiro muitas vezes confuso, que não passa clareza no quê e como está de fato em jogo, e personagens superficiais (o protagonista ser creditado como O Protagonista é sintomático), fica difícil se engajar plenamente com o longa. Certa vez, ouvi que o que faltava em A Origem era uma ameaça maior, algo de escala mundial, em vez de "simplesmente aquela história de competição corporativa". Pois bem, onde A Origem consegue criar um vínculo com o público e prendê-lo emocionalmente não é no objetivo da missão secreta do Cobb de DiCaprio, mas na carga de culpa do seu passado com sua esposa e, principalmente, na tensão de se ele vai conseguir rever os seus filhos. Tenet, infelizmente, não tem nada disto e simplesmente assume que conquistará o espectador só de anunciar que o que está em risco é uma terceira guerra mundial (e depois, pior, o fim do mundo).

De qualquer forma, o longa é o mais inventivo do ano e essencial para qualquer fã de cinema. Afirmar que não figura entre os cinco melhores da carreira do cineasta britânico é tão verdadeiro quanto desleal. Ao realizar algumas das obras-primas da história da sétima arte, Nolan também gerou, com a expectativa de se superar, o fantasma de alcançar o, talvez, inatingível.


Tenet (idem), 2020




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