Pesquisar neste blog:

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Bastidores da verdade


Mesmo com a política sendo peça fundamental em entradas recentes de seu currículo, como em Munique, Lincoln e Ponte dos Espiões, é somente agora com The Post: A Guerra Secreta que Steven Spielberg mergulha no universo de bastidores da notícia e do poder e mostra mais uma ponta de seu ecletismo com um genuíno e notável thriller político. Em apenas 9 meses, dos preparativos iniciais até o lançamento,  o diretor gestou um indicado ao Oscar de Melhor Filme. E dá para entender a “correria”. Ambientado no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, a trama real que envolveu o embate entre imprensa e governo sobre mentiras acerca da guerra do Vietnã é mais do que atual e serve para estimular debates importantes.

O que poderia facilmente ser um arrastado e didático reconto de uma passagem sem graça (não fossem os desdobramentos) do dia-a-dia da equipe do jornal Washington Post, nas mãos de Spielberg ganha um ar da urgência, tensão e novidade. Os diálogos expõem conflitos pessoais e interesses ocultos, tanto de jornalistas quanto de políticos, sempre ressonando com a atualidade.


O destaque é o elenco estelar, liderado por Meryl Streep em (já é clichê, mas vamos lá) uma atuação digna de Oscar e por Tom Hanks, sempre excelente, embora com menos material para brilhar como em outros momentos de sua carreira. Sarah Paulson, Bradley Whitford, Matthew Rhys, Carrie Coon, Jesse Plemons, David Cross e Dan Bucatinsky são alguns dos coadjuvantes - todos eles experientes e já com, ao menos, indicações ao Emmy na bagagem. Assim como também o eterno Saul Goodman, Bob Odenkirk, que é de longe o melhor em tela (dentre os homens, claro).

Embora a produção tenha o trunfo de usar gravações telefônicas reais de Richard Nixon à época, suas falas acabam parecendo caricatas e não somente pela natureza do presidente (as frases públicas de alguns presidentes são surreais já hoje, imaginem as particulares daqui a algumas décadas). O enquadramento que Spielberg escolhe para mostrar Nixon e a trilha sonora digna de vilão de quadrinhos que o acompanha acentuam o tom de uma artificialidade que não era para existir. Mas, é um incômodo menor, como outros pequenos, que não atrapalha uma obra consistente.

Esta espécie de prelúdio de Todos Os Homens do Presidente não deixa nada a dever ao aclamado filme de Alan J. Pakula nem a nenhum outro clássico do gênero. Essencial.


The Post: A Guerra Secreta (The Post), 2017




quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Mães e filhas


No atual momento de Hollywood, onde há um clamor pelo empoderamento feminino e uma aparente pressão por prestigiar os trabalhos realizados e/ou protagonizados por mulheres, a existência de um filme como Lady Bird: É Hora de Voar pode parecer oportunista. Se ganhar quaisquer das categorias pelas quais foi indicada ao Oscar (Filme- Roteiro- Direção- Atriz- Atriz Coadjuvante), a produção irá levar uma mulher ao palco do Dolby Theater para discursar. Mas, sendo um trabalho tão pessoal e de tão longa gestação por parte da criadora Greta Gerwig, julgá-lo como tal é injusto e incorreto.

As indicações nas categorias de atuação são incontestáveis. Saoirse Ronan e Laurie Metcalf são a razão do filme existir e esbanjam uma química fora do comum, estabelecendo uma dinâmica entre mãe e filha crível e comovente. É um projeto claramente movido pela paixão e Greta Gerwig deixa isto transparecer em sua direção sólida e segura e em seu roteiro repleto de diálogos espertos.


Porém, a composição como um todo transforma o trabalho em apenas mais um filme sobre a transição da adolescência-juventude. As cenas rápidas, de natureza episódica, atrapalham o desenvolvimento de um arco dramático ao longo prazo e deixa a impressão de que está sendo preenchido um check-list dos anseios e vivências mais comuns de uma adolescente. Família, escola, rebeldia, amizade, religião, namoro, virgindade, aparência, álcool, drogas, faculdade, dinheiro, individualidade, status social, futuro... todos os temas “obrigatórios” estão ali aglomerados em 01h30 de projeção, que parece durar muito mais do que isso. É muita coisa que já foi transportada para o cinema antes, muitas vezes de forma até melhor e com mais assunto.

Os méritos de Lady Bird são vários, mas os deméritos também existem. Assim, há os que enxergam os defeitos e incorrem no risco da acusação de oportunismo ou protecionismo. E há aqueles que, calejados com a infeliz estatística que pesa contra a quantidade de mulheres nos bastidores do cinema, acabam enxergando somente os pontos bem sucedidos. Porém, Greta Gerwig precisa apresentar um produto final melhor, como já fizeram Kathryn Bigelow, Patty Jenkins, Ava DuVernay, Michelle MacLaren e Lesli Linka Glatter (só para citar uma mão cheia, dentre as realmente poucas que existem) para não ficar só no “ótima direção, para uma mulher”.


Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird), 2017




terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Viva a Pixar!


Festa no Céu, a animação que tem como pano de fundo as tradições mexicanas do Dia dos Mortos, teve uma passagem pelo plano dos vivos sem muita repercussão. É uma pena, pois a produção de Guillermo del Toro centrada em um jovem que contraria a tradição de sua família para perseguir o sonho de ser músico é melhor do que se imagina e merecia mais destaque. Ainda bem que existe vida pós-cinema para as obras serem celebradas em DVD, BluRay ou streaming.

Justamente por este filme de 2014 ter tido pouca visibilidade, foram poucos os que ficaram com o pé atrás quando a Pixar anunciou uma produção com temática bem similar. Normalmente, seria sinal de falta de criatividade, certeza de uma visão míope e americanizada de uma vertente da cultura latina já adaptada para o cinema com tanta propriedade.

Mas, Pixar é Pixar.

Viva - A Vida é Uma Festa realmente tem a mesma fonte de inspiração que Festa no Céu. Mas, restringe-se a isso. Não cabe comparação. O enredo, as mensagens e os objetivos são bem diferentes. E mesmo que Viva não esteja no patamar de outras preciosidades da Pixar, tem seu brilho próprio.


A história segue o menino Miguel em uma jornada de descobertas sobre família, tradição e morte. Este último tema, em especial, é manejado pelos realizadores com sensibilidade e de uma forma adequada para o público infantil. Mesmo quem não compartilha das mesmas crenças utilizadas como base para o enredo não consegue deixar de se emocionar e ainda pode encontrar ganchos para abrir diálogos necessários com os pequenos.

Acima de tudo, Viva é um filme alegre, divertido e comovente, com uma boa dose de reviravoltas (talvez óbvias para os mais safos, mas não menos interessantes). A qualidade da animação é de primeira e o elenco composto essencialmente por mexicanos está bem à vontade (incluindo o estreante Anthony Gonzalez que dá voz ao protagonista mirim). A música, elemento tão crucial para a trama, empolga - seja com a trilha instrumental de Michael Giacchino, seja com as canções originais de Kristen Anderson-Lopez (mais conhecida por seu trabalho em Frozen - Uma Aventura Congelante).

A esta altura do campeonato parece que é automático para a Pixar fazer rir e fazer chorar, entreter puramente enquanto chama para a reflexão. Parece simples, como seguir uma fórmula. Se há de fato este molde mágico na Pixar, os estúdios concorrentes parecem não estar dispostos a copiar. Ou estão tentando e passando longe.


Viva - A Vida é Uma Festa (Coco), 2017




domingo, 21 de janeiro de 2018

Botando a raiva pra fora

A temporada de premiações pode ser injusta com muitos filmes, que correm o risco de serem julgados não pelo que são, mas pela comparação com os principais concorrentes. Assim, quando uma obra grandiosa e cinematográfica como Dunkirk, por exemplo, está no páreo é fácil diminuir o valor de uma produção com escopo mais contido. Assim, foi um susto para muitos, mas não surpresa para todos, quando Três Anúncios Para Um Crime ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme este ano. Independente da concorrência, o fato objetivo é que o filme é realmente muito bom. Sim, por vezes parece um filme feito para televisão, mas com a qualidade da TV hoje em dia, isto é longe de ser demérito.


Três Anúncios lembra bastante as realizações dos irmãos Coen, só que mais palpável. Como se as excentricidades tivessem sido podadas (mesmo que remanesçam algumas situações inusitadas e comportamentos inesperados), em favor de uma ambientação mais realista e personagens mais verossímeis. Ajuda bastante estes serem construídos com atuações de primeira de todo um elenco, que conta com coadjuvantes como Woody Harrelson e Peter Dinklage e é encabeçado pela musa dos Coen, Frances McDormand. Destaca-se também Sam Rockwell, dando camadas de profundidade ao policial que poderia ser apenas mais um dos seus tipos caricatos.

Mérito seja dado também ao roteiro, que foge de ser um estiloso amontoado de diálogos afiados e traz complexidade a suas crias, evitando que se tornem esteriótipos unidimensionais (com exceção, talvez, da namoradinha do ex da protagonista). Em meio a passagens de pura crueldade no seu ensaio sobre a raiva, o longa consegue encontrar indícios de sensatez e compaixão. E com tanto tema pesado, ainda consegue acertar a mão no humor (com exceção, talvez, da namoradinha do ex da protagonista).

Atenção - spoilers no próximo parágrafo

Após passar toda a duração de seu filme testando a percepção do público, levando-o a julgar os personagens e convidando-o a se colocar no lugar deles, enquanto surpreende com novas facetas dos mesmos, o diretor-roteirista Martin McDonagh opta por um desfecho  deliciosamente inconclusivo. Mais uma vez, caberá ao espectador juntar o que foi apresentado e decidir o que vale a pena tirar como lição.

Fim de spoilers

Se o filme receber uns três anúncios para coletar estatueta na noite do Oscar, os que torcem por Dunkirk, A Forma da Água ou The Post - A Guerra Secreta precisarão entender que não se trata de um crime.


Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), 2017




sábado, 30 de dezembro de 2017

2018 - O que vem por aí...


Então, a minha lista dos mais aguardados do ano...

01. Dois Spielberg, claro:
Jogador Nº1 (Ready Player One)
Ficção-científica - 29 de março
Dir.: Steven Spielberg
Com Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn

The Post - A Guerra Secreta (The Post)
Drama - 25 de janeiro
Dir.: Steven Spielberg
Com Meryl Streep, Tom Hanks, Bob Odenkirk



02. A forma da água (The Shape of Water)
Drama/Fantasia - 01 de fevereiro
Dir.: Guillermo Del Toro
Com : Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon

03. Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Aventura - 21 de junho
Dir.: J.A. Bayona
Com Bryce Dallas Howard, Chris Pratt, Jeff Goldblum

04. Aniquilação (Annihilation)
Ficção-científica - 02 de fevereiro
Dir.: Alex Garland
Com Natalie Portman, Tessa Thompson, Oscar Isaac

05. Máquinas Mortais (Mortal Engines)
Ficção-científica - 14 de dezembro (EUA)
Dir.: Christian Rivers
Com Hugo Weaving, Stephen Lang, Robert Sheehan

06. Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle in Time)
Fantasia - 29 de março
Dir.: Ava DuVernay
Com Reese Witherspoon, Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw

07. First Man (projeto sobre Neil Armstrong ainda sem título em português)
Drama - 12 de outubro (EUA)
Dir.: Damien Chazelle
Com Ryan Gosling, Claire Foy, Jon Bernthal

08. Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story)
Aventura - 24 de maio
Dir.: Ron Howard
Com Alden Ehrenreich, Emilia Clarke, Paul Bettany

09. O Homem das Cavernas (Early Man)
Animação - 08 de fevereiro
Dir.: Nick Park
Com vozes de Tom Hiddleston, Maisie Williams, Eddie Redmayne



10. Continuações!
Cloverfield Movie (ainda sem título definitivo)
Suspense - 02 de fevereiro (EUA)
Dir. Julius Onah
Com Gugu Mbatha-Raw, Elizabeth Debicki, Daniel Brühl

Oito Mulheres e um Segredo (Ocean's 8)
Ação - 08 de junho (EUA)
Dir.: Gary Ross
Com Sandra Bullock, Anne Hathaway, Cate Blanchett

Os Incríveis 2 (Incredibles 2)
Animação - 15 de junho
Dir.: Brad Bird
Com vozes de Craig T. Nelson, Samuel L. Jackson, Holly Hunter

Missão: Impossível 6 (Mission: Impossible 6)
Ação - 26 de julho
Dir.: Christopher McQuarrie
Com Tom Cruise, Henry Cavill, Rebecca Ferguson

A Volta de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)
Musical - 20 de dezembro
Dir.: Rob Marshall
Com Emily Blunt, Meryl Streep, Colin Firth


terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Deixando 2017...

Chegou aquele momento de fazer minha lista dos melhores do ano (considerando os que eu consegui ver, claro):

01. Dunkirk

02. Fragmentado


03. Em Ritmo de Fuga

04. Star Wars: Os Últimos Jedi

05. Colossal

06. Planeta dos Macacos: A Guerra

07. LEGO Batman: O Filme

08. Blade Runner 2049


09. Corra!

10. Mulher-Maravilha


Se fosse para considerar também os de 2016 que foram lançados aqui no Brasil somente em 2017, La La Land: Cantando Estações entraria em 2o. lugar, jogando todos os demais uma posição pra baixo.



domingo, 24 de dezembro de 2017

A Força é poderosa neste - agora com spoilers


Passado o período perigoso, fica liberado comentar alguns aspectos cruciais de Star Wars: Os Últimos Jedi. O principal motivador é responder à uma frente que simplesmente estabeleceu que: a) o público odiou o filme e a crítica foi paga pela Disney; e b) o filme é ruim e estraga tudo que existe no universo Star Wars.

Antes de mais nada, é necessário assimilar que existem de fato fãs radicais que, incompreensivelmente, detestaram o filme. Eles não são maioria da população mundial frequentadora de salas de cinema. Há uma tendência a se agarrar nos resultados iniciais do Rotten Tomatoes, que apontava a produção com 92% de aprovação entre os críticos, mas apenas com 53% do público. Mas, vale notar que, enquanto o site faz de fato um apanhado de todos os principais críticos pelo mundo, a nota do público é baseada apenas nos usuários que são devidamente cadastrados e que se dão ao trabalho colocar sua pontuação. Hoje são pouco mais de 140 mil usuários que contribuíram para a qualificação de Os Últimos Jedi. E, mais importante, pode-se notar que ao lado do balde de pipoca caído está escrito  "53% do público gostou deste filme". E aí há espaço para um outro grande debate, que não será travado aqui: "gostar" e "não gostar" é diferente de "ser bom" ou "ser ruim". E, ainda assim, há outra referência a ser levada em conta, o CinemaScore, que desde a década de 1970 realiza pesquisa diretamente nas saídas dos cinemas americanos e canadenses para colocar em prova a receptividade dos principais lançamentos. Os Últimos Jedi recebeu nota A, que perde apenas para A+.

Quanto à possibilidade de crítica paga, francamente... o sucesso de Star Wars nunca foi afetado pela crítica. Não ia ser agora, na Disney, que a coisa iria mudar. Aliás, a Lucasfilm acertou com Rian Johnson a realização de uma nova trilogia no universo Star Wars antes mesmo do filme estrear, tamanha a confiança de que o produto final seria rentável. E este acerto foi mais que acertado.

Eliminado o item a), resta o b). E a partir de agora... SPOILERS pesados sobre Star Wars: Os Últimos Jedi.



Bom, para organizar, abordagem por tópico:

A Força
O principal trunfo de Rian Johnson é devolver à Força o sentido amplo e mítico que ela merece. Com a trilogia desnecessária (para amenizar) composta pelos Episódios I, II e III, George Lucas introduziu os midchlorians e estragou a noção instituída por ele mesmo nos IV, V e VI de que a Força existia por aí e poderia ser manipulada por qualquer um, com o devido treinamento, com a devida fé ou com a devida oportunidade. Os Últimos Jedi faz um ótimo trabalho, já pincelado em Rogue One, de mostrar que qualquer um pode usar A Força e não apenas os que nasceram predestinados a tal. E é o melhor filme que explica o conceito praticamente taoísta da Força. Quem TEM a Força é o He-Man depois que evoca os poderes de Grayskull. Os Jedi sentem, usam a Força. "Que a Força esteja com você", não "Que você tenha a Força", certo?

Novos personagens x Personagens antigos
Outra coisa que George Lucas errou no I, II e III foi se sentir na obrigação de incluir tanto personagem secundário do IV, V e VI. Por mais que goste deles, R2-D2 e C3-PO, por exemplo, não tinham nada que aparecer naquela trilogia. Neste filme têm muito pouco tempo em tela, bem como Chewbacca,  em benefício para a história que está sendo contada agora, de Rey, Kylo, Poe e Finn. Isto não é desrespeito à saga, mas uma consequência natural de uma trama em evolução. Ainda assim, faltou tempo para os personagens introduzidos agora, sobretudo Rosie, que não tem desenvolvimento suficiente para criar amarras emocionais com o público nem fazer por merecer um romance com Finn, e o de Benicio Del Toro, que -mal sinal- sequer tem seu nome revelado. De qualquer forma, por mais que a sequência de Canto Bight não seja lá das mais fortes, Del Toro apresenta um tipo inédito neste mundo que sempre viveu limitado à dicotomia bem x mal, luz x escuridão. Embora pareça apenas servir como recurso do roteiro (se ele podia decodificar a tranca da cela a qualquer momento, o que ele estava fazendo ali dentro senão apenas esperando para soltar os mocinhos?) suas colocações amorais são pertinentes, mesmo que indesejadas, e dão mais consistência à realidade de todo aquele universo.

Expectativas do gênero
E Del Toro protagoniza também uma das várias cenas em que Rian Johnson subverte expectativas de filmes de ação/ ficção. Após trair Finn e Rosie, ele não dá uma recaída à la Lando Calrissian e simplesmente dá as costas, sem voltar num segundo momento para salvá-los, como seria de se esperar. Constantemente também, o mocinho (Poe Dameron é o que mais sofre com isso) que se revolta com seus superiores para colocar um plano mirabolante em ação se dá mal, pois o plano falha miseravelmente no último segundo, quando em qualquer outro filme seria no exato momento em que ele daria certo, colocando o protagonista num pedestal. São os vários momentos como este que diferenciam Os Últimos Jedi dos outros que vieram antes.

Leia
Se há uma cena que poderia receber o rótulo de "ridícula" no filme é a de Leia voando pelo espaço. Há várias explicações, como a de que criou uma bolha de ar e de que usou a força para atrair a nave à ela mas, com a relação de massas, foi ela quem foi até à nave, etc, etc. Mas, mesmo assim, é uma cena difícil de se defender. Não porque "nenhum Jedi fez algo similar antes na saga", pois os melhores momentos deste filme advêm de situações ainda não exploradas anteriormente, mas porque há outras maneiras de mostrar a poderosa relação de Leia com a Força. E foi reconfortante constatar que após a morte de Carrie Fisher terminadas as filmagens, Johnson e a Lucasfilm resolveram não mexer em nada do que estava planejado para a personagem e incidentalmente a deixaram com belíssimas palavras de despedida.

Luke
Os detratores estão dizendo que "estragaram" o Luke, se apegando à seguinte notícia:
After reading the script for the film, Mark Hamill told director Rian Johnson, "I pretty much fundamentally disagree with every choice you've made for this character [Luke Skywalker]. Now, having said that, I have gotten it off my chest, and my job now is to take what you've created and do my best to realize your vision."
Mas, preferem ignorar esta:
But Hamill walked back that statement, later telling Variety that “it took me a while to get around to his way of thinking. But once I was there, it was a thrilling experience. I hope it will be for the audience, too.”
De qualquer forma, Mark Hamill é apenas um ator. Só porque foi o único a interpretar o personagem até agora, não significa que tenha plena propriedade sobre ele. O poder de criação é do roteirista e do diretor. E as decisões sobre Luke foram acertadíssimas. É preciso lembrar que Luke começou a treinar já velho e nem completou seu treinamento direito. A aparição de Yoda para dar um puxão de orelha nele e trazer ainda mais ensinamentos é mais do que coerente.

A Morte de Luke
Assinado embaixo no que Rian Johnson tem a dizer:
Q.: When did you decide that Luke Skywalker had to die in The Last Jedi? 
A.: It was something very early on that started to feel right to me.  It was a process.  It was very early when I thought, when I kind of landed on where Luke’s head was at and what his arc was going to be in terms of moving from someone who’s decided the galaxy is better off without Luke and the Jedi to fully embracing the galaxy needs a legend to believe in.  I’m going to put this on my shoulders and be the legend of Luke Skywalker for everybody. 
When I knew that was his arc, I had the instant tinge of that means that’s the place for him to [die] because what else can he accomplish in the physical realm beyond that?  That would be the place emotionally that would have the most impact for him to let himself go.  […] I don’t know what’s gonna happen in Episode 9 at all, but there’s actually more potential for more interesting things in terms of his role in the final chapter if he moves into another realm. 
Q.: He could be a Force ghost haunting Kylo Ren. 
A.: It’s fascinating, isn’t it?  A lot more fascinating than him just tagging along with our heroes with a lightsaber.  So to me, it opened up more potential and it seemed like having a full film that is Luke’s journey…it seemed like if there’s any place in the trilogy where it’s gonna have the most potent place, it would be here.  But believe me, I wasn’t looking forward to doing it. 

Snoke
Assinado embaixo no que Rian Johnson tem a dizer:
I guess the first thing to say is coming into writing this or any story the object is not to subvert expectation, the object is not surprise.  I think that would lead to some contrived places.  The object is drama.  And in this case, the object was figuring out a path for each one of these characters, where we challenge them and thus learn more about each of them by the end of the movie. 
So that having been said, Kylo’s arc in this movie, besides his relationship with Rey, I saw as the big arc for Kylo breaking down this kind of unstable foundation that he’s on and then building him to where by the end of the film he’s no longer just a Vader wannabe. But he’s stepped into his own as kind of a quote-unquote villain, but a complicated villain that you understand, right?  So with that in mind, the idea that Kylo would get to that place by the end of it led me to think, well, then what is Snoke’s place at the end?  And does that work with him just kneeling before Snoke at the end?  No.  If Kylo’s gotta get to a place of actual power the ultimate expression of that would be him ascending beyond his master.
And that also then gives the opportunity to have a great, dramatic moment that you don’t expect of getting Snoke kind of out of the way.  So that really is where it all stemmed from.  It was thinking about Kylo’s path, thinking about where I wanted him to be at the end of the movie to set him up for the next film.  And thinking okay, that means we’re gonna clear away this slightly more familiar dynamic of the Emperor and the pupil.  Clear the boards from that, and then that’s much more exciting going into [Episode IX], the notion of now we just have Kylo as the one that they have to deal with.  You can no longer take a rational guess at how the Snoke-Kylo thing is gonna play out in the next movie.

Pais da Rey
Assinado embaixo no que Rian Johnson tem a dizer:
...if you look at for example, the Vader “I am your Father” moment from Empire [Strikes Back], I think that moment’s so powerful because it’s the hardest possible thing that Luke and the audience could hear at that moment.  It takes away the easy answers basically.  We thought he was just a bad guy that we could hate and want to kill, but that one sentence and suddenly it’s more complicated than that.  It’s harder than that. 
If Rey in this movie, if someone had told her yes, here’s the answer.  You are so and so’s daughter.  Here’s your place in this world.  Here you go.  That would be the easiest thing she and the audience could hear.  It would hand her on a silver platter her place in all this.  The hardest thing for all of us to hear and the thing that she doesn’t wanna hear and maybe we don’t either is that no, this is not going to be something where it’s gonna define you.  And the fact that you don’t have this is gonna be used against you by Kylo to try and pull him into your orbit.  This is gonna be hard.  And you’re gonna have to stand on your own two feet and define yourself in this story.


Em suma... Rian Johnson é o cara que tinha uma história para criar e contar e se concentrou nela e nos personagens que mais importavam, como há muito não se via em Star Wars. Não deu a mínima para o que a internet vinha especulando (e pedindo) desde O Despertar da Força, nem se prendeu a padrões pré-estabelecidos por fãs. Entregou um filme sólido que dá um novo gás para a saga e que (spoilers do próximo post!) foi simplesmente um dos 5 melhores do ano.