Mesmo com a política sendo peça fundamental em entradas recentes de seu currículo, como em Munique, Lincoln e Ponte dos Espiões, é somente agora com The Post: A Guerra Secreta que Steven Spielberg mergulha no universo de bastidores da notícia e do poder e mostra mais uma ponta de seu ecletismo com um genuíno e notável thriller político. Em apenas 9 meses, dos preparativos iniciais até o lançamento, o diretor gestou um indicado ao Oscar de Melhor Filme. E dá para entender a “correria”. Ambientado no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, a trama real que envolveu o embate entre imprensa e governo sobre mentiras acerca da guerra do Vietnã é mais do que atual e serve para estimular debates importantes.
O que poderia facilmente ser um arrastado e didático reconto de uma passagem sem graça (não fossem os desdobramentos) do dia-a-dia da equipe do jornal Washington Post, nas mãos de Spielberg ganha um ar da urgência, tensão e novidade. Os diálogos expõem conflitos pessoais e interesses ocultos, tanto de jornalistas quanto de políticos, sempre ressonando com a atualidade.
Embora a produção tenha o trunfo de usar gravações telefônicas reais de Richard Nixon à época, suas falas acabam parecendo caricatas e não somente pela natureza do presidente (as frases públicas de alguns presidentes são surreais já hoje, imaginem as particulares daqui a algumas décadas). O enquadramento que Spielberg escolhe para mostrar Nixon e a trilha sonora digna de vilão de quadrinhos que o acompanha acentuam o tom de uma artificialidade que não era para existir. Mas, é um incômodo menor, como outros pequenos, que não atrapalha uma obra consistente.
Esta espécie de prelúdio de Todos Os Homens do Presidente não deixa nada a dever ao aclamado filme de Alan J. Pakula nem a nenhum outro clássico do gênero. Essencial.
The Post: A Guerra Secreta (The Post), 2017
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