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terça-feira, 21 de abril de 2009

Presságio pré-visto


Presságio
é mais um daqueles filmes em que a idéia inicial é melhor que o resultado final. Os comentários a seguir contêm spoilers pesados, leiam apenas após terem visto o filme. (Por este mesmo motivo não colocarei em negrito os nomes de outros filmes aos quais faço referências)

Para começar, o longa se arrisca em mares navegados com sucesso somente por pouquíssimas produções: a mudança de gênero no 3o. ato. A maioria dos filmes que pula de comédia para drama, drama para fanstasia, suspense para ficção científica (como é o caso), etc., naufraga. Este não chega a ser um desastre titanesco porque possui 2/3 de filme bastantes eficientes com cenas impecáveis (como a do acidente do avião e a sequência do metrô), e um bom trabalho de direção e edição colocando um ritmo forte e tenso até o (decepcionante) desfecho.

O roteiro escorrega na sequência conclusiva não só pela mudança de gênero, mas porque acabamos percebendo que toda a "parte boa" do filme acabou sendo construída em vão. O debate filosófico de casualidade x destino é mal aproveitado e perde todo o sentido. Afinal, por quê o personagem de Nicolas Cage precisa de fato saber as coordenadas e se envolver daquela forma, se no fim das contas os alienígenas acabam sequestrando os meninos, levando-os ao local de decolagem? E, se era decisão do filho ir ou não ir, por quê eles tinham que ficar perseguindo-os e dizendo "venham conosco"?

Da mesma forma, muitas cenas aparecem como meros mecanismos para fazer o roteiro girar. Como foi mesmo que o então super-incrédulo Nicolas Cage descobriu que parte dos números tinham um propósito? Por quê o filho de repente passa a escrever números em uma folha de papel, como a Lucinda, se o mundo já vai acabar no dia seguinte, senão só para dar a dica da porta de madeira arranhada? Por quê os alienígenas precisavam se parecer com humanos? Se vimos na destruição final que até prédios viram pó com a onda de calor solar, que sentido tem aquela cena que o alienígena mostra a floresta e os animais apenas em chamas? Por quê a Lucinda velha escreveria everyone else debaixo da cama?

Outro ponto incômodo foi que consegui enxergar várias cenas recicladas em Presságio. As já citadas cenas do avião e do metrô me pareceram versões melhoradas e mais impactantes do início de Lost e do final Velocidade Máxima, respectivamente. Também foi elevado a um nível mais alto as aparições dos alienigínas-disfarçados-de-humandos que já havíamos visto em Os Esquecidos. Porém, as demais cenas recicladas ficam aquém de suas fontes inspiradoras. A despedida à beira da nave com todo aquele drama de 'vai, fica, vem' já tinha sido feita em E.T. - O Extraterrestre. Com o diferencial de que em Presságio não há força dramática, já que não há opção para Nicolas Cage, tendo em vista que ele não foi chamado, e tampouco há opção para o filho: é ir ou a morrer. E então Cage sai correndo para se reconciliar com o pai, e receber a onda de calor apocalípitica abraçado com ele, assim como Téa Leoni fez em Impacto Profundo (só que com onda d'água). Mais uma vez, sem a mesma carga dramática porque Cage não tinha a opção de se salvar: o mundo INTEIRO ia pro espaço, enquanto Tea Leoni tinha ainda a chance de ir para "lugares altos" como fez Elijah Wood naquele filme. O que nos leva a questionar se houve mesmo algum tipo de redenção do personagem de Cage, já que o lance de pastor, morte da esposa e perda de fé nos faz lembrar também de Sinais, mas sem nenhuma mensagem clara como a do filme de M. Night Shyamalan.

E clareza é o que Presságio tem demais ao expor o fim do mundo que, embora a sequência encha os olhos com seus belos efeitos visuais, acredito que o desfecho deveria ser mais sutil, optando por deixar algumas mensagens subentendidas, como na versão original de O Segredo do Abismo (Quem viu a versão do diretor nota que sua falta de sutileza praticamente estraga a versão exibida nos cinemas). Por outro lado, a pouca clareza no epílogo demonstra também a fragilidade com que o longa tratou temas bíblicos. Os dois meninhos são os novos Adão e Eva e a grande árvore branca é uma macieira com uma serpente? A mensagem do filme é que a nossa Terra atual também surgiu assim? O que havia nas outras naves: bichos de todo canto do Planeta, sendo tudo aquilo uma nova Arca de Noé porque Deus já não mais tinha fé na nossa humanidade; ou os coelhos brancos que os dois meninos levaram simplesmente simbolizam a fertilidade e nas outras naves existem "escolhidos" de outros cantos do planeta? Esta última opção seria pelo menos etnicamente mais correta, né?

Pra completar, vemos que na Hollywood pós-Sexto Sentido, todo filme que tem, ou pretende ter, uma reviravolta, tenta repetir a fórmula: dar dicas do que está por vir para (tentar) dar aquela sensação de "Como não pensei nisso antes? Preciso rever o filme, já". E estão lá as deixas de que estamos tratando de alienígenas (o letreiro inicial virando estrelas, o papo de vida em outros planetas logo no começo), de que a ameaça vem do sol (Lucinda olhando fixamente pra ele, o papo na sala de aula) e da fatalidade final (a mulherzinha dizendo "Todos nós morreremos no final"). Mas o fato é que, não dá vontade de rever Presságio. Pelo menos não "já".

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