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domingo, 20 de janeiro de 2019

Cuidado, frágil.


Aviso: este texto não contém spoilers específicos, mas traz comentários gerais sobre Corpo Fechado, Fragmentado e Vidro que podem entregar alguns pontos das tramas destes filmes.


Embora tenha muito pelo qual ser admirado, Vidro não deve cair nas graças de muitos. O motivo é que o diretor-roteirista M. Night Shyamalan não consegue vencer o desafio que indireta ou diretamente se auto-impôs ao criar um filme (secreto) de super-herói como nenhum outro, Corpo Fechado, e 16 anos depois lançar um suspense eficaz, Fragmentado, que como num passe de mágica se revelou uma continuação (secreta) do, já cult, Corpo Fechado.

Como superar tudo isso? Bem, não foi dessa vez que a pergunta foi respondida.


Assim que a terceira parte da saga foi anunciada, o público começou a criar sua lista de desejos. Há quem quisesse embates épicos entre David Dunn, Horda e Sr. Vidro, mas o filme faz outras escolhas, bem Shyamalanescas. E, realmente, não só escolhe ser mais contido na maior parte da projeção, mas também é melhor quando está nesta condição. Esse confinamento dos protagonistas em um único local abre as portas pros pontos altos do longa, como a atuação de Samuel L. Jackson e, sobretudo, para James McAvoy dar um show ainda maior que o de Fragmentado. Ainda assim, fica a sensação de subdesenvolvimento de outros personagens, como o próprio Dunn, e a Casey Cooke de Anna Taylor-Joy, grande promessa do filme anterior - uma que inclusive alguns viam sinais de que poderia se tornar uma super-heroína. Muitas teorias de fãs foram por água abaixo e, pior, a "grande revelação" deste filme é simplesmente uma constatação de algo que já estava praticamente óbvio para quem assistiu Fragmentado por uma segunda vez, sob a perspectiva de ser uma continuação.

Não bastasse isso, Shyamalan abarrota Vidro com diálogos expositivos. No caso, o filme como um todo e não somente seu vilão-título. Esta escolha para Sr. Vidro até seria condizente e coerente com o personagem e seu plano principal, se isto não acabasse desgastando tanto a metalinguagem que funcionou tão bem em Corpo Fechado. Porém, chega a ser irritante quando fica quase impossível identificar um personagem sequer que não tenha falas que mereciam uma revisão antes do roteiro ter sido finalizado.

De qualquer forma, há o prazer de reencontrar estes personagens e desfrutar dos outros (os bons) Shyamalanismos nesta conclusão de trilogia que, mesmo não atingindo o retorno emocional esperado por seu criador, é  satisfatória sob vários aspectos.


Vidro (Glass), 2019




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