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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Que Coisa...


É difícil separar quando um filme é uma decepção só por demérito próprio de quando o fator expectativa o submete a um parâmetro injusto. Seja como for, a mais recente adaptação para o cinema do livro de 1986 de Stephen King, It: A Coisa, foi apontada por boa parte de público e crítica como um dos filmes mais aterrorizantes dos últimos tempos. Mas, It não é lá essa Coisa toda.

A enervante cena de abertura serve para várias coisas, mas para principalmente mostrar um filme (bem melhor) que poderia ter sido. Lá em 1975, Spielberg já provou com Tubarão que o subentendido, o “não mostrar a criatura”, pode ser muito mais assustador que o explícito. It devota alguns minutos em uma arrepiante interação de um garotinho com Pennywise, o Palhaço Dançarino, para rapidamente já mostrá-lo com uma bocarra sobrenatural cheia de dentes, decepando e devorando sua pequena vítima. A cena choca e imediatamente tira a magia em torno do vilão da história. Um investimento maior de tempo na exploração da combinação sinistra de atuação e maquiagem do palhaço em si, deixando a parte monstruosa em CGI mais para o final, teria sido muito mais benéfica para a história.


A construção do roteiro em torno de Pennywise é falha, enfraquecendo o suspense. O espectador não é servido com elementos suficientes para entender a dinâmica dos acontecimentos... Quando, onde e como Pennywise pode surgir? O que o faz desaparecer? Quando que ele está ali para matar ou para sequestrar ou só para assustar? Os bons filmes do gênero estabelecem preceitos que criam o senso de urgência. Aqui, o resultado é apenas um amontoado de cenas (a maioria convencional, mas algumas verdadeiramente horripilantes, como uma que se dá numa garagem envolvendo um projetor) que vão acontecendo e escalando sem uma liga, sem um objetivo maior que não simplesmente submeter os personagens a momentos de terror. 

E não dá para ter uma abertura tão cruel com uma criancinha se não houver este objetivo maior, uma recompensa no final. Como várias (todas?) obras de Stephen King, os seres humanos acabam sendo tão ou mais temíveis quanto a ameaça principal. Para o arco destes também, mais ainda, está ausente este propósito narrativo e fica parecendo apenas tortura gratuita a inclusão de bullies tão perversos e de um pai abusivo, entre tantos (todos?) péssimos pais. É difícil conectar com um filme que não tenha uma figura paterna, ou um adulto sequer, digna ou ao menos simpática. É incômodo também que o elenco principal (e são muitas crianças/ adolescentes) esteja em um filme que claramente não podem, nem deveriam, assistir. Nem tanto pelas cenas com o bicho papão circense, mas pela presença desses humanos desprezíveis.

O pouco charme que a produção tem vem da turminha que se auto intitula O Clube dos Perdedores, rendendo boas atuações e uma chamada nostálgica aos anos 1980. Mas, tudo muito inferior a, por exemplo, Stranger Things, que faz isso tudo com muito mais destreza. E a comparação é totalmente inevitável, pois além dos motivos óbvios, ainda há a presença não intencional de um protagonista da série da Netflix neste filme. A ausência deste elenco infantil no próximo capítulo cinematográfico (daqui a 27 anos na trama e a 2 anos reais, pela programação estúdio) trará um grande desafio para os produtores: encontrar algum elemento carismático no meio de toda esta bagunça.


 It: A Coisa (It), 2017

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