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sábado, 28 de outubro de 2017

Há solução, Sherlock


O revés de se fazer um trabalho excelente é que tudo que vier depois e não for do mesmo nível pode, por comparação, ser taxado de ruim. Desde que sua primeira temporada foi lançada em 2010, Sherlock passou a correr este risco. A segunda e a terceira temporadas conseguiram se manter à altura, mas finalmente o destino implacável assolou a série da BBC. E é assim que é. Mesmo bem acima da média do que tem por aí, a quarta temporada foi injustamente menosprezada pela crítica. Mas, certamente inferior às anteriores, não é ruim.

Os problemas parecem elementares. O primeiro é que há uma guinada no tom e a temporada é mais sombria que o de costume, tanto com os vilões quanto para o estado em que os heróis se encontram. Ainda há o humor costumeiro, para satisfação de todos, mas agora a série contraria expectativas, adentrando territórios mais soturnos. Outro ponto destoante advém da introdução de um novo, digamos, elemento, quando entra em cena fatores quase paranormais, nesta narrativa outrora racional. E, pior, este elemento além de pouco contribuir para a mitologia da série, também traz um desnecessário acréscimo ao passado de Holmes.


Mas, a temporada tira proveito de Benedict Cumberbatch, explorando o lado emotivo de Sherlock, e continua com oportunidades interessantes para o bom trabalho de Martin Freeman como Dr. Watson. O co-criador da série, Mark Gatiss, encontra mais espaço para seu Mycroft ao mesmo tempo em que, junto com o outro criador - Steven Moffat, demonstra claros sinais de arrependimento por ter se desfeito precocemente de Moriarty e do talento de seu intérprete, Andrew Scott.

Se não fosse por um acontecimento impactante, o primeiro episódio seria esquecível. O segundo chega a ser um dos melhores de toda a série, trazendo momentos tensos e dando ao público as habituais 'sherlockices', além de cenas inventivas com as graciosas deduções do detetive. Seu desfecho é com um gancho empolgante para o episódio derradeiro da temporada (ou da série?). Porém, o terceiro escorrega em inconsistências lógicas e entrega um produto que faz pouco sentido.

Seus últimos segundos, todavia, conseguem reacender a chama dos fãs e aguçam a vontade por mais temporadas. De repente, sem o compromisso em nutrir uma história a longo prazo, os produtores conseguem retomar as rédeas e voltar à suposta proposta original: episódios fechados, como um telefilme cada, centrados em Holmes e Watson solucionando casos.


Sherlock (4a. temporada), 2017

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