Pesquisar neste blog:

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Encantando estações


Está na Era de Ouro de Hollywood a maior concentração de títulos dentre os melhores filmes de um formato que acabou se tornando um gênero: o musical. Ambiciosos e carregados de criatividade, os musicais eram veículos não só para contar uma boa história, mas também para expor os talentos de atores, cantores, dançarinos, coreógrafos ou compositores (ou, na maior parte dos casos, de artistas que combinavam duas ou mais destas funções). De lá para cá, excetuando algumas animações, os musicais perderam sua ousadia e originalidade: passaram a se resumir a adaptações de sucessos da Broadway (ou do West End) ou se limitaram a mesclar histórias "novas" com canções já mundialmente consagradas.

La La Land: Cantando Estações veio para mudar este estigma. Apoiando-se na química entre Emma Stone e Ryan Gosling (que não são exímios dançarinos ou cantores, mas triunfam pelo esforço), a produção demonstra maturidade em confiar que o público atual pode e quer consumir novas canções e números musicais à moda antiga.


Não que o filme seja antiquado, pelo contrário. A história se desenrola em uma Los Angeles quase atemporal, onde as pessoas chegam até a se vestir em um estilo anos 60 ao mesmo tempo em que usam smartphones e assistem YouTube. Mas, não é só a ambientação que é atual, Damien Chazelle não se perde em meio a chamadas visuais a clássicos e imprime vigor e modernidade à sua direção. A já memorável sequência de abertura, por exemplo, é executada em um estonteante plano-sequência.

Chazelle também assina o roteiro (básico em essência, mas com boas sacadas) e não deixa sua história sobre a luta pelos sonhos cair em muitos convencionalismos e clichês dos romances, desde a canção que parece se apresentar como o tema de amor sob uma linda vista da cidade, até a emotiva sequência final. É uma pena, porém, que no segundo ato acabe se esquecendo de que tem em mãos um musical e não um filme sobre música. Caso tivesse recheado La La Land com mais iguarias como as de suas bordas, o cineasta teria servido um prato perfeito.

Através, de certa forma, de um metacomentário irônico (vide as discussões dos seus personagens Sebastian e Keith sobre jazz), Chazelle conseguiu com sucesso modernizar, na medida certa, algo tido como ultrapassado e criou uma obra, como os grandes clássicos do gênero, encantadora.


La La Land: Cantando Estações (La La Land), 2016




Um comentário:

  1. É majestoso, muito bonito visualmente. O filme abre com uma impressionante sequência em uma rodovia em direção a Los Angeles. La La Land é um filme essencialmente sensorial. A história é quase uma desculpa para reconstruir a magia dos musicais. Ryan Gosling (Ryan do óptimo Blade Runner 2049 ) e Emma Stone tornam toda essa construção fluida, ambos desempenhando um dos melhores papeis de suas carreiras. Não só através de suas movimentações nas quais cada passada parece ter sido milimetricamente estudada, tornando até o flutuar algo orgânico, como na forma que se entregam a seus personagens. Mesmo nos silêncios conseguimos sentir ambos, de tal maneira que ganham vida diante de nossos olhos, nos fazendo sentir suas dores, alegrias, tornando seus sonhos os nossos. Acompanhar esse casal é se deixar entregar a uma espiral de emoções, que nos remetem aquele grande amor que todos vivemos. A música ainda faz o máximo para aproveitar a voz de ambos, levando em conta suas limitações, sem exagerar ao ponto de pedir mais do que eles poderiam realizar.

    ResponderExcluir