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sábado, 25 de junho de 2016

Poola esse


Quando passou pelos cinemas, Deadpool foi venerado por concretizar exatamente o que os fãs do personagem sonhavam como adaptação. Além da fidelidade com as HQs, os elogios eram direcionados também para seu estilo que, repleto de auto-paródia, se recusava a se levar a sério. As críticas foram altamente positivas, as bilheterias resultaram num recorde para filmes de censura 'R' (Restricted - recomendado para maiores de 17 anos) e o boca a boca foi animador.

Mesmo com tanta recomendação, foi com relutância que resolvi dar uma chance à produção, na tela da TV. Confesso que já de cara, nos engraçadinhos créditos iniciais, fui fisgado e logo fiquei encucado: será que este filme poderia ser realmente surpreendente, um ponto fora da curva?

Bem, a reposta é um... pouco menos relutante... 'não'.


As incontáveis referências, seja a outras propriedades da Marvel, à rival DC ou a outros filmes quaisquer, e o recorrente uso da metalinguagem de forma cômica dão um toque especial e injetam um ar de novidade, mesmo oscilando entre o genial e o óbvio sem discernimento. Deadpool parece uma mescla de Curtindo A Vida Adoidado com filmes do Mel Brooks, fantasiada de blockbuster e regada a violência gráfica com pitadas de nudez e sexo. O humor frenético diverte, mas as infindáveis piadas e gags visuais sobre pênis e bunda cansam rapidamente. A metralhadora de xingamentos parece saída das comédias teatrais sem conteúdo, que acreditam piamente que apelar para palavrões incessantes é uma solução para fazer rir.

Mesmo se esforçando para ser tão diferente em tom e estilo dos outros filmes de super-herói, a narrativa não consegue fugir dos clichês mais básicos de enredo. 'Cara desvirtuado conhece garota que pode o tornar uma pessoa melhor. Casal tem ótimos momentos juntos. Cara descobre doença terminal e abandona garota, para o bem dela. Cara tenta solução extrema para poder voltar para garota. Vilão acaba deformando o cara, que parte em busca de vingança, pois teme ser rejeitado pela garota. Cara começa a aniquilar aliados do vilão. Vilão descobre que para chegar no cara, precisa sequestrar a garota. Garota deixa objeto marcante no chão para o cara descobrir que foi levada. Cara derrota o vilão e salva a garota. Garota aceita o cara como ele é, mesmo deformado.'

E nessa história super-básica estão personagens super-banais (ironicamente como o letreiro inicial já havia anunciado, mas que todos, inclusive eu, acreditaram que era só uma piadinha): a donzela em apuros, o vilão sem motivações plausíveis, o ajudante alívio cômico, os heróis secundários que ninguém conhece e os inúmeros capangas que estão ali para serem mortos. Nenhum deles passam do unidimensional, têm histórico, nem se desenvolvem de alguma forma. Ryan Reynolds pode até ter "nascido para viver Deadpool", como muitos disseram por aí, mas definitivamente seu irritante e superficial Wade Wilson não conquista um lugar no rol de (anti-)heróis a serem lembrados.

Nem mesmo a ação, usualmente ponto forte neste tipo de filme, chega a marcar. Há somente uma grande e empolgante sequência, que nem é no clímax da história, e o confronto final com o vilão é sem tempero e desaponta. Os efeitos visuais, no entanto, transportam para o filme, diretamente dos quadrinhos e animações, uma inovação positiva: a máscara que o herói usa já não é mais estática e, com a ajuda de computação gráfica, os entornos de olhos e boca se movimentam de forma a modelar as expressões faciais de acordo com o sentimento momentâneo do personagem. Aparentemente, a se julgar pelo novo Homem-Aranha visto em Capitão América: Guerra Civil, uma nova e bem vinda tendência.

Pelo sucesso que fez, Deadpool parte para uma inevitável sequência. Resta saber se, passado o encantamento inicial, haverá vigor para a longevidade da franquia.  Eu poderia até entrar num "dead pool" pra apostar qual franquia de super-herói que morre primeiro, mas a verdade é que... francamente, eu não dou a mínima. (No original em inglês: "Frankly, my darling, I don't give a f***!")

Deadpool (Deadpool), 2016




Um comentário:

  1. Comecei a ver a série animada "Ultimate Spider-Man" (disponível pra quem tem Netflix ou Telecine no NOW) e, além de me divertir mais do que esperava, percebi que Deadpool é uma simples e piorada cópia para adultos deste desenho para crianças.

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