Descobri que tenho algumas coisas em comum com Damon Lindelof, um dos criadores de
Lost. Além de ambos sermos mamíferos, bípedes, com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, há um outro fator que nos aproxima, e provavelmente nos distancia da maioria dos seres humanos:
Caçadores da Arca Perdida. Mais especificamente, o amor incondicional pelo filme, o fato de nos lembrarmos claramente a primeira vez (de centenas) que o vimos e a curiosidade destas sessões inaugurais envolverem emergências vesicais.
Em comemoração aos 30 anos de lançamento da brilhante primeira aventura de Indiana Jones, Damon escreveu uma
carta de amor ao filme. O texto começa com a frase: "Lembro-me claramente da última vez que fiz xixi nas calças". O motivo? Além de ter 8 anos, ele estava no cinema vendo Caçadores de Arca Perdida e simplesmente não podia perder um minuto da projeção para poder ir ao banheiro. Nada mais justo.
Eu não tive a oportunidade de ver Caçadores no cinema, era muito novo e nem sequer tomei conhecimento da existência dele. Porém, em 1983, se não me engano, houve um evento na casa dos meus pais. Meu tio combinou de reunir toda a família para apresentar sua mais nova aquisição: um tal aparelho de videocassete. Eu não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, além do fato de que iríamos ter uma "sessão de cinema em casa". E o filme era Caçadores da Arca Perdida.
Fascinado pela produção antes mesmo de sua metade, lembro-me claramente quando - Indiana Jones na escavação, com o Cajado de Rá nas mãos, tentando localizar o Poço das Almas - minha mãe anuncia: "Preciso ir ao banheiro!"
- Não, mãe, não vá! Você vai perder o filme!
- Calma, ela pode ir sim. A gente "para" o filme.
- Hã?!?! Nós todos vamos perder, então??? Aí, não!
- Não, não... Com o videocassete tem como parar e continuar depois exatamente de onde estava.
- Hein?!?!
- Veja só...
Então, meu tio acionou o "Pause". E o Indiana ficou lá olhando para a miniatura da cidade de Tânis, estático.
E, quando minha mãe voltou, tudo continuou exatamente de onde estava. Uau.
Mas, a maravilha maior que aquele aparelho poderia proporcionar ainda estava por vir... Quando acabou o filme, que eu então passei a considerar como um dos melhores que já tinha visto (e até hoje, quase 30 anos depois, ainda considero), meu primo disse: "Podemos ver de novo???". E podia. Quantas vezes quisesse. Pelo menos até segunda-feira, quando a fita tinha que ser devolvida para o "video-clube".
Instantaneamente virei fã de Indiana Jones, de Steven Spielberg e do inventor do videocassete (quem quer que seja).
P.S.: O "P.S." da
carta do Lindelof indica que temos ainda mais coisas em comum que o amor por Caçadores, o telencéfalo altamente desenvolvido, o polegar opositor, etc, etc.