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terça-feira, 23 de março de 2021

Liga da Arbitrariedade

PRÓLOGO

Não sou das melhores pessoas pra opinar sobre Liga da Justiça de Zack Snyder porque, para começar, eu nunca torci para esta versão existir. Sentia que era desnecessária, simplesmente porque não achei o Liga da Justiça, do Joss Whedon lançado em 2017, tão ruim assim. Foi bom o suficiente para algo tão esperado? Não. Mas tampouco foi uma aberração como a internet passou a pintar depois. Pelo contrário, ele acertou num ponto importantíssimo para mim: Superman.

Cresci sob a imagem do Superman de 1978, materializada por Christopher Reeve e reforçada por vários quadrinhos da minha infância e adolescência (e pelos desenhos dos Super Amigos!). Todavia, o personagem que Zack Snyder apresentou em Homem de Aço e Batman v. Superman - A Origem da Justiça definitivamente não foi o Superman que eu conhecia, nem era o que eu acredito que deveria ser. O Liga da Justiça de Whedon fez um esforço para corrigir isso e me agradou. Foi bacana demais passar a ver um Superman como no prólogo, feliz e sendo um modelo pra crianças, como no clímax, mais preocupado em salvar civis do que eliminar o vilão, e como no epílogo no meio dos créditos, fazendo uma aposta por diversão de quem é mais rápido: ele voando ou o Flash correndo (quase que uma piada interna com os fãs da DC). Vi o filme apenas uma vez, confesso, mas não me esqueço da vontade de me levantar e aplaudir a cena em que Flash empurra o carro de uma família russa para longe do perigo, só para depois dar de ombros ao perceber que Superman passa voando carregando um prédio inteiro. Impagável.

CAPÍTULOS 1 AO 6

Tudo isso destoa dos outros dois filmes anteriores e para mim foi, antes tarde do que nunca, uma correção de rota necessária. Esse Liga da Justiça "novo" restabelece o tom dos e a sintonia com os antecessores, faz mais sentido como uma trilogia e talvez até seja mesmo ligeiramente melhor. Mas eu gosto menos.

As melhorias narrativas ajudam, com um pouco mais de contexto e histórias de fundo, inclusive dando ao vilão motivações mais palpáveis (seu visual ser mais pontudo e os efeitos da sua composição digital estarem melhores são, francamente, mero detalhes). 

Só que algumas novidades não emplacam, como o lance confuso do sonho/linha temporal alternativa (?) e a ponta de um outro membro recorrente da Liga, que surge só para desfazer uma das poucas cenas emotivas e para aparecer (sem propósito) nos últimos segundos. Sem falar que agora o filme é pra gente grande.

Sangue jorrando, membros decepados, um "f***" aqui e lá e uma paleta de cores mais sóbrias não tornam o filme "mais maduro". Apenas expõem a intenção de Snyder de se distanciar da injustiçada (vejam só) versão anterior e de forjar autenticidade à sua "visão original". Que, francamente, com todo esse esforço para ser censura 'R' (não recomendado para menores de 17) e mais suas quatro horas de duração, nunca teria sido lançada nos cinemas em 2017.

E ...SPOILER... é difícil de aceitar Aquaman atravessando seu tridente no tórax do Lobo da Estepe para, na sequência, Mulher-Maravilha decapitá-lo. Totalmente fora do que estes heróis inspiravam e deveriam continuar inspirando em novas gerações. Já há, Snyder, coisas como The Boys e seu próprio Watchmen - O Filme para satisfazer este seu anseio. 

O fato é que o longa é um produto de mimimi (dos fãs), de ego (de Zack Snyder) e de, claro, interesse comercial. Vale somente para quem é muito fã da DC ou quer muito formar uma opinião, já que não deixa de ser, pelas circunstâncias e repercussão, uma realização de grande relevância cultural. 

EPÍLOGO

Volto ao Super. Quando eu tinha 3 anos, minha mãe me deu uma fantasia azul, 'S' dourado no peito, cueca por cima da calça, capa vermelha. Aquilo me tornava feliz e eu achava que podia voar e sair evitando desastres e impedindo que vilões fizessem maldades com as pessoas. Hoje em dia se eu der fantasia de Superman pro meu filho de 3 anos ele se tornará angustiado e vai querer quebrar o pescoço do coleguinha vestido de Zod ou cortar a orelha do fantasiado de Lobo da Estepe.

Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League), 2021




CENA PÓS-CRÉDITOS


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