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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Ali, hein?!


Por um período o diretor Ridley Scott esteve desenvolvendo uma continuação da sua ficção-científica de 2012, Prometheus. Tendo abominado este primeiro filme, fiquei torcendo para que o cineasta abandonasse a ideia e fosse usar seu talento em outras empreitadas. Porém, quando Prometheus 2 virou Alien: Covenant, a coisa mudou de figura. Uma simples troca de título me fez acreditar que haveria uma ‘mudança de espírito’ e meu interesse pelo filme foi de nulo a moderadamente alto. Algo me dizia que Scott poderia voltar às origens do terror da sua obra-prima, Alien - O Oitavo Passageiro, ou até mesmo investir na ação, ponto forte do excelente Aliens - O Resgate, de James Cameron.

E, de fato, Covenant funciona justamente quando emula o original de 1979 e a continuação de 1986. O terror sanguinolento ainda impressiona, mesmo que não haja o mesmo suspense intrínseco à novidade e à surpresa, e a ação empolga, mesmo que seja carregada de computação gráfica e não tenha o mesmo senso de realismo que os efeitos visuais práticos proporcionavam.


Da mesma forma, o longa também é mais fraco quando evoca Prometheus. O alento é que parece que Scott aprendeu a lição e tenta não se prender em responder a todas as perguntas do filme anterior, apenas passa pelas mais necessárias e essenciais para dar sequência à história. Satisfatório para quem é fã das raízes da franquia Alien, decepcionante para os (poucos) que gostaram de Prometheus.

Para não ser totalmente injusto com o filme anterior, vale dizer que vem de herança dele o que tem de melhor neste novo filme: Michael Fassbender, revivendo o robô David (que está ainda mais complexo) e encarnando outro robô, Walter, fisicamente idêntico, mas diferente em vários outros aspectos. Vê-lo(s) em cena é um prazer à parte.

A nova heroína tem a ingrata missão de sair da sombra da Ellen Ripley de Sigourney Weaver. E não obtém sucesso, apesar da boa atuação de Katherine Waterston. O potencial de engajar discussões relevantes que poderiam orbitar o personagem de Billy Crudup é totalmente desperdiçado em um roteiro que se limita a anunciá-lo como "o homem de fé". Não é mistério que o tema principal de Covenant é a relação criador/ criatura, o 'brincar de Deus'.

Ao mesmo tempo em que fica uma curiosidade sobre como tudo isso vai se conectar com a tripulação da Nostromo, resta também a sensação de que gradativamente o charme do Oitavo Passageiro está se perdendo. Algo bem parecido como ver que Darth Vader foi um menino bobinho e um adolescente chatinho antes de sair tocando terror na galáxia.


Alien: Covenant (Alien: Covenant), 2017




Um comentário:

  1. A principal temática realmente é a relação entre criador e criatura.

    ####Spoiler alert#########
    Isso eu achei muito bem explorado pelo Ridley. A idéia do ser humano ter sido criado e de poder criar. Assim seres humanos puderam criar andróides. E os mesmos andróides foram criadores da raça orgânica mais poderosa que é o Alien, utilizando da tecnologia provida pelos criadores dos humanos.

    E fica aquela questão... Será que David colocou .. qual o propósito da criação ?
    E de certa forma era o que ele perseguia.

    O que acho interessante é a correlação direta com Blade Runner, quando David fala "That's the spirit!" numa citação ao mesmo diálogo de Roy Batty em Blade Runner. Em Prometeus/Alien Covenant é o criador de David que busca a perpetuação de sua vida, sendo que em Blade Runner é Roy Batty.

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