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sábado, 18 de março de 2017

Mudaram as estações


Produzido por três mulheres, escrito por duas (uma assinando o roteiro, com base no livro de uma outra) e com enorme presença feminina no elenco (com Emily Blunt encabeçando, Rebecca Ferguson e Haley Bennet em papéis cruciais para a trama, e ainda com os rostos reconhecíveis de Laura Prepon, Allison Janney e Lisa Kudrow em participações menores - que talvez em outras produções seriam substituídas por personagens masculinos), A Garota no Trem passa, com muita facilidade, no Teste de Bechdel.

Tão em voga na atualidade, o empoderamento feminino não está presente só nos bastidores da produção, mas reflete fortemente também na narrativa. Estereótipos, como a alcoólatra ou a mulher objeto, são quebrados e justificados com dignos arcos dramáticos, mesmo que alguns sejam talvez até dramáticos demais. A edição colabora com esta construção, mas as atuações são o verdadeiro carro-chefe. Não há dúvidas de que Emily Blunt (junto com Amy Adams, por A Chegada, claro) deveria ter figurado entre as indicadas ao Oscar de Melhor Atriz este ano.


Só que como história de mistério, o filme não funciona bem.

Um bom whodunnit é aquele em que o espectador tem a oportunidade de desvendar a trama junto com os personagens enquanto as dicas e pistas vão surgindo ao longo da história. Os melhores do gênero são aqueles que, quando o desfecho é revelado, a plateia é pega de surpresa e não se conforma de não ter ligado os pontos corretamente.

O primeiro erro de A Garota no Trem é demorar a chegar no grande mistério. Enquanto há o ganho com desenvolvimento de personagens, há perda no engajamento com o público. A estrutura de saltos temporais poderia ter sido explorada também para apresentar o crime mais cedo. O segundo, e pior, erro é que não há pistas verdadeiras, não há a opção do espectador participar. Quando, faltando meia hora para o fim do filme, surge a primeira revelação, o mistério se desmorona, a charada deixa de existir e tudo se arrasta até um desfecho padrão.

O diretor Tate Taylor se esforça para compensar essas falhas com a busca de um estilo próprio (que tem como exemplo uma interessante, mesmo que não inédita, tomada em que duas personagens dialogam em frente ao espelho, sem a câmera aparecer no reflexo). Mas, considerando que o livro foi um sucesso de vendas é de se acreditar que algo muito significativo se perdeu durante o processo de adaptação. Seria necessário ler a obra original para tentar entender. O problema é que após o filme se instaura o desinteresse em revisitar a história.


A Garota no Trem (The Girl on the Train), 2016




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