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terça-feira, 1 de outubro de 2013

O que poderia ter sido


Assistir a Rush (que no Brasil ganhou o horrível subtítulo No Limite da Emoção) me deixou triste. Não que o filme seja ruim, pelo contrário: sem esperar até o fim do ano eu já daria indicações ao Oscar de Som, Trilha Sonora, Edição e, principalmente, Fotografia e Ator (para Daniel Brühl). E não descartaria Filme, Diretor e Roteiro.


Mesmo sendo um sucesso em vários níveis, algo me impediu de desfrutá-lo plenamente: lembranças. Não dos eventos ali retratados, eu sequer era nascido em 1976. É que muitas cenas de Rush me remeteram a cenas de um outro filme, o excelente documentário Senna, de 2010.  Outras materializaram cenários e situações que imaginei ao ler o livro Ayrton - O Herói Revelado . E várias, sobretudo, trouxeram à tona de novo as memórias de uma época em que eu acompanhava a Fórmula 1 como um fã do esporte. Ou pelo menos achava isso. Eu acompanhava, de fato, Senna.

Além do óbvio tema geral, F1,  foram incontáveis as cenas de Rush responsáveis por isto: o questionamento se determinado piloto é bom ou não na chuva, o dilema do perigo de correr, a paixão pelo esporte acima de tudo, a disciplina na reservada vida pessoal, a rivalidade declarada com outro piloto, o conhecimento do carro só pelo seu barulho, o término heroico de uma corrida com problemas de marcha, a invasão da torcida para carregar o ídolo nos braços, as discussões nos bastidores e nos briefings, a dor de ver um colega acidentado na pista...

Minha tristeza não é de luto - Senna já está eternizado como ídolo nacional e imortalizado na história do automobilismo mundial. Minha tristeza é ver que tanto talento, tantas cenas elaboradas, tantos diálogos interessantes, tantas ótimas atuações já foram investidos neste filme. Pois, agora fica mais difícil ainda sair o tão especulado filme sobre Senna. Eu vi Nikki Lauda e James Hunt na tela, mas não conseguia parar de pensar que poderia estar vendo Ayrton Senna, com Prost, Mansell, Berger, Alesi, Piquet, Ron Dennis, Jean Marie-Balestre como coadjuvantes. Sim, Hunt e Lauda mereceram este filme. E Senna merecia, no mínimo, este também. Hollywood tem destas coisas, se Rush não for um mega-sucesso de bilheteria (e aparentemente não vai), projetos com tema similares são engavetados, ou pior, produzidos com orçamento de segundo escalão. O próprio Peter Morgan escreveu a primeira versão do roteiro de Rush por paixão, não sob encomenda, e o fez sem colocar sequências de corrida certo de que, caso algum dia fosse comprado, seria para uma produção com baixo orçamento.

Mas, se esperaram mais de 35 anos para fazer jus à esta história no cinema, há a esperança de que em mais uns 15 anos veremos um filme digno de Senna nas telonas. É aceitável. Até lá tenho condições de ainda ter na memória as imagens e sensações que me farão apreciar o filme por completo.

3 comentários:

  1. Boas observações Zé! Realmente o filme é fantástico, muito bom mesmo. E um do senna seria de arrepiar. Voce arriscaria montar o elenco caso o filme fosse feito por agora?

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    1. É um caso a se pensar...
      (Pena que já usaram Daniel Bruhl: seria perfeito para um péssimo Piquet)

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  2. Complemento do post:

    Um crítico americano falou que foi um "pequeno milagre" Rush ter sido produzido. Seu orçamento foi arrecadado de forma independente, já que a Universal considerou o tema, Formula 1, pouco comercial e o investimento como de alto risco. Nesta confusão o diretor então designado, Paul Greengrass (Vôo United 93, A Supremacia / O Ultimato Bourne), abandonou o projeto. Além disso, a liberação dos direitos de uso da marca Formula 1, assim como individualmente de Ferrari, McLaren, etc, é complicadíssimo, principalmente se for sem restrições ou sem um controle pesado dos proprietários. Foi por isso que Sylvester Stallone migrou seu Alta Velocidade, de 2001, de um filme sobre F1 para um filme sobre formula CART.

    Sobre o orçamento, fiz um comparativo rápido só para se ter uma ideia de parte do 'pequeno milagre' feito por Ron Howard & cia. Pegando o básico, como questões de logística e complexidade técnica, seria natural imaginar que um filme de automobilismo custaria mais que um filme sobre beisebol ou boxe, só para citar dois exemplos mais queridinhos do público americano. Rush custou US$38 milhões. 'O Homem que Mudou o Jogo', filme de 2011 com Brad Pitt sobre os bastidores do beisebol custou US$50 milhões. 'Grudge Match', comédia sobre boxe com De Niro e Stallone que sai este ano, US$65 milhões. A cinebiografia 'Ali', com Will Smith como o famoso boxeador, custou US$107 milhões, em 2001!

    É, mais 15 anos mesmo na esperança de que os obstáculos enfrentados pela equipe de Rush possam ser superados também por alguma outra equipe tão boa quanto.

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