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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O triste fim de David, o robô


Steven Spielberg é constantemente acusado de muitas coisas. Uma delas é de sempre dar finais felizes a seus filmes (como se isso fosse necessariamente ruim). Outra é ter dado um final feliz a A.I. – Inteligência Artificial. E uma terceira é de não ter deixado A.I.  com o final que Stanley Kubrick queria, ao acrescentar uma espécie de epílogo depois do ponto em que supostamente seu finado colaborador teria encerrado a história (mais uma vez, como se fosse ruim mudar um final de filme do Kubrick). OBS.: este post contém spoiler do filme, não prossiga se quiser evitar.

Começando do final das acusações - não há muito o que ser dito. Basta ver este rápido vídeo em que Spielberg esclarece que era sua obrigação terminar A.I. daquela forma simplesmente porque era assim que Kubrick havia desejado que fosse o desfecho (além de ser coerente com sua própria visão).

Partindo para a outra acusação, basta recapitular e entender os últimos momentos da saga do menino robô.  Em busca de um milagre de conto-de-fadas, David acaba dentro de uma pequena nave-submarino no fundo do mar, encarando uma antiga estátua de fada azul na esperança que ela o transforme em um menino de verdade e o reúna com sua “mãe”. Dois mil anos se passam e robôs mega avançados acabam resgatando David, congelado, daquela situação inerte. Estes robôs fazem uma varredura de sua memória e resolvem carregar em sua mente uma imagem feliz, de reencontro com a sua mãe.  David então passa um “dia” perfeito com ela e vai para o sono eterno em seus braços.

Sinceramente, isto é um final feliz? Para o personagem tudo pode ter ficado aparentemente bem, mas nós, espectadores, sabemos que ele não encontrou com a mãe coisa nenhuma. Nós sabemos que a única oportunidade que ele tinha para isso desapareceu dois mil anos atrás e que provavelmente ele nem fez falta para sua mãe, nem para ninguém. David, de fato, morre exatamente como passou os dois últimos séculos: abandonado.

O fato de nós termos esta ciência do que realmente aconteceu, mesmo diante da aparente satisfação do personagem, torna o final deprimente, não feliz.


(spoiler de A Ilha do Medo a seguir – pule para o próximo parágrafo para evitar) Exemplo? Só porque o personagem de DiCaprio no final de A Ilha do Medo escolhe viver no seu mundo da lua como herói significa que tudo ficou feliz? Não! Ele continua sendo um assassino, sem regeneração, que vai ser lobotomizado!

(spoiler de Desejo e Reparação a seguir – pule para o próximo parágrafo para evitar) Para pegar entender isto bem, basta ver Desejo e Reparação (que é um filme excepcional, mas infelizmente ignorado por muitos, por ter sido vendido como um romance, quando é muito mais que isso). Sem delongar muito, no final do filme a narradora revela que, da metade pra frente da projeção, nada daquilo que vimos aconteceu e que na verdade os dois personagens principais, que haviam se separado no primeiro ato do filme, nunca se reencontraram e acabaram morrendo tragicamente. Mas ela diz na narração que, no livro que estava escrevendo sobre a história, estava dando a eles o final feliz que mereciam. E fica na tela imagens do casal reunido andando feliz pela praia... Sabendo que aquilo é mentira, será que é possível se sentir bem e abraçar aquilo como um final feliz?

Portanto, Spielberg está livre de todas (estas) acusações. Caso do ‘menino robô que deveria ter ficado no fundo do mar’ encerrado.

4 comentários:

  1. Discordo... Na otóti do menino (pela qual assistimos o filme) o final e feliz sim. Ele se despede, "adorme-se" ao lado da mae depois de realizar o unico desejo.
    Segundo a teoria de Lacan. O homem é um ser incompleto movido pelo Falo (desejo). Sempre que ele atinge seu objetivo, realiza seu desejo, sua energia é concentra no proximo, mantendo um ciclo de insatisfação...
    O homem só se sente por inteiro uma única vez. Ao nascer quando o nosso objeto de desejo (a mãe) nos deseja de volta.

    Todos nós nascemos completos, mas morremos incomples. Em busca da sensação do primeiro objeto de desejo.

    David nao, quando sua mãe faz ele assombrar as velas e fazer um desejo ele responde:"ele já se realizou."
    David, naquele momento estava nascendo.

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    1. Caraca que POST profundo, me fez refletir

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  2. Os robôs são mega avançados mesmo, mostraram sentimentos nobres de compaixão, empatia esforçando se para realizar o desejo que ele tanto buscava devotadamente em oração a Fada Azul. O filme é triste, melancólico entretanto o final foi perfeito. David encontrou a paz.

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  3. Foi um lindo final feliz. Os robôs avançados tiveram grande empatia e compaixão por David e realizaram seu desejo de ser um menino e de ser amado por sua mãe. David esperou 2 mil anos por isso e teve. Foi o possível a ser feito e finalizou um ciclo de existência. David morreu feliz e cercado de amor ( de sua mãe na programação e dos robôs evoluídos naquela realidade do futuro).

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