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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Só pra variar


Minha aversão (por falta de palavra mais branda) por Tarantino é amplamente conhecida. Certamente não é uma implicância gratuita ou preconceito, pois isto significaria criticar sem sequer conhecer. E eu assisti a todos filmes dirigidos ou co-dirigidos por ele (com exceção de À Prova de Morte e Grande Hotel), além de Amor À Queima-Roupa e Assassinos Por Natureza. Creio que isto é o suficiente para dar base ao meu gosto. E daí pra frente, "gosto é gosto"...

Seu egocentrismo é um dos pontos altos da minha... posso chamá-la de Tarantipatia?... É irritante ver alguém fazendo duas obras marcantes para depois viver de se gabar e se auto-homenagear em suas obras seguintes. Quem mais simplesmente põe seu nome à frente de filmes só para que eles sejam vendidos? (Não acreditam? Procurem a história de O Albergue e Herói, ou vejam os créditos iniciais de Kill Bill: Vol.1) Suas trilhas sonoras (sempre muito boas, não há como negar) invariavelmente são compilações de músicas escolhidas por ele próprio: afinal, ele não quer correr o risco de um compositor vir e "estragar" seu filme na pós-produção. Palavras dele. Privilegiar forma (a sua forma) sobre conteúdo e ser monotemático, são mais alguns catalisadores da minha perturbação. Voltaremos a eles.

Então é natural entender a relutância que tive para assistir a Bastardos Inglórios. Mas, por insistência de conhecidos e curiosidade (mórbida?) acabei cedendo. Não arrependi, é verdade. Não estou aqui dizendo que me curei da Tarantipatia, mas não devo também ser injusto.

O primeiro passo de Tarantino foi dar chance a um novo tema. Se Guy Ritchie, Robert Rodriguez, Brian de Palma, Martin Scorsese, que são seus contemporâneos ou inspiradores declarados, se aventuraram bem em outras águas, por que não ele? Em um cenário já naturalmente hostil e angustiante, o da França ocupada pelos Nazistas na Segunda Guerra, seus diálogos típicos ganham aqui muito mais peso ao contribuir efetivamente para o clima e a construção da tensão de cada cena. Com isto eles não soam apenas discussões descontextualizadas sobre o preço de um milk-shake, a motivação do Superman ou o significado da música "Like a Virgin", que mais parecem palavras do próprio Tarantino do que dos personagens que as dizem. A diminuição da quantidade de f*cks desnecessários também ajuda.

A excepcional atuação de Christoph Waltz é, claro, o maior achado do filme. Contribuindo grandemente para as cenas tensas, para as dramáticas e, muito, para as cômicas, seu personagem transcende qualquer outro do mundo Tarantinesco e brilha por si só.


Porém, algumas coisas nunca mudam. Ao se agarrar em seu estilo, criando mais personagens caricatos (vide os de Brad Pitt e Eli Roth) e uma ambientação inverossímil, Tarantino ofusca em algumas cenas os traços da realidade brutal da guerra e as floreia com sua violência burlesca. Com isto, acabam se perdendo ao longo do filme as referências históricas e as consistências do roteiro. Ao contrário de Operação Valquíria, ou mesmo A Queda, por exemplo, não há em Bastardos um suspense para platéia de quando o destino dos personagens será selado, já que tudo pode não acontecer nesta história "alternativa". Não é à toa que o filme inicia-se com "Era uma vez..." Da mesma forma, em qualquer outra história de estratégia o público acharia risível utilizar um personagem como infiltrado em território inimigo (o tal Stiglitz) sendo que um próprio inimigo declarara antes que todos lá conheciam tal personagem.

Para mim o que fica do filme é que ao menos valeu a tentativa de Tarantino de fugir do seu óbvio. Sim, óbvio é a palavra. Mesmo sendo considerando um gênio por muitos, justamente por seu estilo peculiar, o fato é que ficar se repetindo sempre é cair na mesmice.

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