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sexta-feira, 17 de maio de 2019

A jogada final dos Vingadores

(Texto com SPOILERS para Vingadores Guerra Infinita e Ultimato. Mas, pela bilheteria deles, certamente você já assistiu)

Naturalmente, as HQs fizeram parte da minha infância/ adolescência. Talvez por influência do Superman, de 1978, do desenho dos Superamigos na TV nos anos 1980 e do Batman, de 1989, eu tinha uma afinidade maior com a DC Comics. Mas, li bastante Marvel também, com certa predileção por Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e a incrível minissérie Guerras Secretas, que me fascinava por reunir todos os principais heróis numa história única.

Porém, minha estima pelos gibis foi se dissipando por culpa da necessidade da Marvel de entrelaçar suas tramas. Estava lá eu lendo um Homem-Aranha e algo que parecia estar fora do contexto era mencionado. Surgia uma nota de rodapé: *Leia Capitão-América no. 27. Três páginas depois, outra nota: *Leia Vingadores no. 31. O caso era que nem toda banca de revista tinha tudo, a mesada era limitada e eu simplesmente não achava certo ser obrigado a ler um monte de outra coisa para poder acompanhar a história que eu queria. Infelizmente, o mesmo aconteceu comigo com a incursão da Marvel nos cinemas com seu Marvel Cinematic Universe. Começou a ter tanto filme, com tanta "nota de rodapé", que bateu uma preguiça. A verdade, doída, é que não vi exatamente todos os cerca de 20 filmes que deveriam ser assistidos antes dos dois Vingadores derradeiros.

E Vingadores: Guerra Infinita definitivamente está sob este paradigma. Só é possível entender 100% do ponto de partida da história, e do pano de fundo de todos os (incontáveis) personagens, se tiver assistido a 100% dos filmes que o antecederam. Mas, claro, é possível curtir o filme com conhecimento de apenas parte da filmografia do MCU, pois o roteiro usa alguns poucos minutos aqui e ali para dar uma relembrada no (ou situar o) espectador.

E há, sim, bastante o que curtir nesta convergência mágica de personagens, estrelas e narrativas, em uma escala talvez sem precedentes na história do cinema. Mas, há muito. E, julgo, não das coisas certas.

Os grandes momentos da Marvel no cinema quase sempre foram os de desenvolvimento e interação de personagens. A esta altura, as origens estão realmente mais que estabelecidas e muitos heróis estão mais para o fim dos seus arcos do que demandando mais maturação. Mas, ainda há bastante para se explorar no relacionamento daqueles vários egos - sendo o exemplo maior (e as melhores partes de Guerra Infinita) a dinâmica entre Thor e os Guardiões da Galáxia.

Além também de um pouco de Tony Stark "versus" Doutor Estranho e de Wanda e Visão num romance sem graça e nada eficaz em estabelecer a carga emocional necessária para decisões que levam ao clímax do filme, o roteiro se esforça para investir em Thanos.

Ainda assim, a ação em torno do vilão é muito corrida: levou sabe-se lá quantos anos para conseguir uma única Joia do Infinito e agora, duma vezada só, consegue todas. E, mesmo com uma boa atuação de Josh Brolin sob o CGI, seu momento maior de "humanização" não me conquistou, nem me convenceu. Não vi material suficiente nos dois longas dos Guardiões, nem neste, que me fizessem acreditar no tamanho do amor de Thanos por Gamora. Não me pareceu ser uma tarefa árdua para ele o "sacrifício" para conquistar a Joia da Alma, assim como ele não esboçou ser uma alma torturada depois.

A morte de Gamora é, sim, impactante, construída em uma cena bela e dramática. Este impacto, porém, se contrapõe à sensação de provisoriedade das outras mortes que ocorrem, principalmente no 'grande momento' da produção.

Já é sintomático em filme de heróis e a Marvel sabe disso. A morte de Lóki, por exemplo, é precedida por um "Sem ressurreição desta vez" e sucedida por um "Desta vez é definitivo, ele não voltará", para tentar (sem sucesso, no meu ponto de vista) dar algum peso ao que está por vir.

Embora as imagens sejam momentaneamente tocantes, assim que começam a ser revelados quem são os afetados pelo estalar de dedos do Thanos, o filme me perdeu. A obviedade de que haverá uma reversão no próximo Vingadores fica estampada no momento em que são eliminados personagens que já têm suas continuações garantidas, como Pantera Negra, Guardiões da Galáxia, Doutor Estranho e Homem-Aranha. O elemento surpresa e o choque são rapidamente substituídos pelo desânimo de "é, lá vem mais um filme de ressurreição de heróis". Mesmo sem a mínima noção dos (amplamente divulgados) planos da Marvel para as telonas, um espectador imerso consegue ter a mesma percepção: acabou de ver minutos antes Thanos revertendo uma morte, a do Visão.

Fica de fato uma certa expectativa do como vão fazer, mas nenhuma dúvida de que realmente vão. Eu senti mais pelo povo de Gamora no flashback do que pelos protagonistas.

(Até aqui o texto foi escrito antes que eu tivesse visto Ultimato)


E, então, tudo nos leva a Vingadores: Ultimato.

Sob a ótica da família de Gavião Arqueiro, o filme abre ainda no espírito de Guerra Infinita: perturbador num primeiro momento, mas, pela dimensão e pelo "tipo de filme que é", sem margem para dúvida da reversibilidade. E, pelos próximos 15 minutos, assim segue. Na correria e, com Thor decapitando Thanos, no choque seguido da certeza de que nada é definitivo. Afinal, ainda é o começo de um longa de super-herói produzido pela Disney!

Mas, as coisas começam a ficar interessantes e o salto de cinco anos traz um desconforto necessário. Mesmo que a metade da vida do universo volte em algum momento, temos a oportunidade de presenciar o quanto a ausência dela afeta o planeta e, principalmente, os personagens. O filme tira o pé do acelerador e o roteiro cuida de nos situar nas consequências psicológicas e emocionais. À medida que a equipe vai se recompondo para a execução do novo plano, os diretores acertam em construir momentos tenros ou engraçados, calmos e pequenos em escopo, tão escassos em Guerra Infinita.

Os assaltos temporais, como foram batizados pelo Scott, criaram formas inventivas para o público revisitar momentos do MCU sob outros pontos de vista, lembrando bastante De Volta Para o Futuro 2. Isso sem perder o foco nos relacionamentos e em meio a sequências de ação empolgantes.

De uma forma geral, sou um fã de viagem no tempo e, talvez com exceção do contido Crimes Temporais e do confuso e complexo Primer, praticamente é impossível se criar uma história em torno deste tema sem incorrer em furos ou paradoxos. Pensar um pouquinho demais nas ações e consequências do que é feito na maior parte deste filme é ser puramente implicante e esquecer que trata-se de uma obra de entretenimento. Claro que o que o Capitão América faz no final beira o absurdo e dificilmente sustenta a lógica de muita coisa que já aconteceu nestes filmes todos, mas não me importo. Eu me diverti com o que vi e fiquei bem satisfeito que a solução não foi simplesmente fazer o tempo voltar para trás. As mortes acabaram não sendo definitivas, como previsto, mas o impacto daquelas ausências modelou fortemente os que ficaram. E suas decisões.

Avalio que Ultimato é uma conclusão digna para os que encerraram seu ciclo e um bom empurrão para os que continuam suas jornadas. Ainda sinto resquícios de saturação de filmes de super-heróis, mas se lançarem 'Asgardiões da Galáxia' semana que vem, meu ingresso está garantido.


Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War), 2018




Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame), 2019




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