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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Uma outra nova esperança


Quando a Disney comprou a Lucasfilm e anunciou que queria lançar um filme por ano com a marca Star Wars, tudo soou como um puro e legítimo caça-níquel. E quando o primeiro spin-off da série começou a convocar atores durante a pós-produção para regravar cenas e "corrigir o tom do filme", a situação ficou ainda mais desanimadora.

Porém, Rogue One: Uma História de Star Wars provou que os pessimistas estavam errados. Provou que aquele universo é grande e rico suficiente para contar uma história emocionante e que não seja centrada no clã Skywalker. Provou que é possível existir um bom filme de Star Wars sem (praticamente) a presença das coisas que mais marcam a franquia, como jedis, sabres-de-luz e uma trilha sonora de John Williams. Provou que outros artistas podem inserir elementos e personagens novos tão interessantes quanto os criados originalmente por George Lucas. Provou que 'prequência' não é sinônimo de ruim.


Rogue One se passa antes dos acontecimentos do Guerra Nas Estrelas original (também conhecido como Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança) e, por incrível que pareça, tem muito a acrescentar, tornando o filme de 1977 até melhor ao responder a uma determinada crítica que sempre rondou a mitologia da saga. Mas, ao contrário dos Episódios I a III, preencher lacunas e explicar como as coisas chegaram aonde estão não é a razão principal da existência de Rogue One. Ele funciona muito bem como um filme único e autônomo, um filme de espionagem, um filme de "equipe multidisciplinar executando um roubo impossível", um filme de guerra (o Wars do Star nunca teve tanto destaque assim antes).

Pegando o embalo do recente Episódio VII - O Despertar da Força, mais uma vez a (acertada) aposta é em uma protagonista feminina, cercada por diversidade. Aqui há espaço para negro, latino, oriental, árabe e portador de deficiência. Nunca fez mesmo muito sentido, numa galáxia tão vasta e cheia de espécies e raças diferentes de alienígenas, os humanos serem só brancos. O elenco está muito bem escalado e engajado e até dá para perceber a satisfação da atriz Felicity Jones, e de sua personagem Jyn Erso, quando tem a honra de falar a recorrente frase da saga, com uma pequena e adequada variação, "Que a Força esteja conosco". E como é que conseguiram um papel em que Mads Mikkelsen não é esquito e ameaçador?

O visual da produção é um show à parte, como não poderia deixar de ser, com um pequeno porém para a presença de dois personagens digitais, cuja artificialidade se destaca negativamente e incomoda os olhares um pouquinho mais atentos. Mas, nada que estrague a experiência como um todo onde, assim como a trilha sonora, tudo parece fresco e novo, porém recorrentemente remetendo ao Star Wars conhecido, sem sê-lo, até que em alguns momentos se rende e abraça plenamente sua natureza.

Rogue One abre novas possibilidades. Financeiras, pois é sucesso garantido nas bilheterias, e artísticas, pois mostra que há espaço para se desviar da fórmula estabelecida. Por exemplo, o filme desbrava um território cinzento onde mocinhos não são tão certinhos (incluindo uma cena que é um verdadeiro "Toma isso, 'Han não atirou primeiro'!") e onde os finais não são exatamente padrão Disney. Curioso que a outra frase recorrente de Star Wars, "Eu tenho um mau pressentimento sobre isso", seja aqui interrompida no meio de sua fala, de forma muito adequada para a cena e também muito coerente com o que a produção poderia representar e de fato representa para o futuro da franquia.


Rogue One: Uma História de Star Wars (Rogue One: A Star Wars Story), 2016




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