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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Regresso em movimento


Seja tradicional, preto-e-branco, mudo, 3D, animação... cinema é, no fim das contas, uma arte de contar de histórias. O que o distingue de outras artes com mesmo propósito pode ser extraído de sua etimologia: "cinema" vem do grego, kinema - movimento.

Nesse sentido, não há, entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano, produção mais cinematográfica que O Regresso. Sim, Mad Max: Estrada da Fúria é "mais movimentada" que o filme estrelado por Leonardo DiCaprio, mas quantidade é só um parâmetro. Qualidade é também importante. Não que a de Mad Max seja ruim, pelo contrário, mas o que se tem como resultado em O Regresso é cinema em essência e dificilmente poderia ser replicado com tanta excelência em outro formato.


Assim como A Grande Aposta, Brooklyn, Perdido em Marte e O Quarto de Jack surgiram de livros renomados, é fácil vislumbrar Spotlight - Segredos Revelados e Ponte dos Espiões transformados em livros com mesmo ou maior impacto que seus atuais formatos em película (sem desmerecer os feitios de Tom McCarthy e, claro, Steven Spielberg). E quase todos estes outros concorrentes seriam tão interessantes como peças teatrais quanto foram como filmes. Mad Max, que possui enredo simples (em seu núcleo até similar à de O Regresso) e diálogos pouco elaborados, poderia ser desenvolvido tão bem quanto, ou até de forma melhor, em quadrinhos ou videogame.

O que o diretor mexicano Alejandro González Iñiarritú faz é trazer uma dimensão única e complexa, alcançável apenas mesmo com a sétima arte, àquela que poderia ser meramente mais uma violenta história de vingança. E boa parte do mérito deve ser devidamente creditada ao seu diretor de fotografia, o conterrâneo Emmanuel Lubezki, que concebe imagens - e movimentos - belíssimos e complexos. Aliás, será uma grande e desagradável surpresa se Lubezki, já injustiçado uma vez com Filhos da Esperança, não ganhar seu terceiro Oscar consecutivo.

O Regresso pode até perder a principal estatueta deste ano, mas seria um grande erro da Academia premiar a melhor história, em vez do melhor cinema.

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