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segunda-feira, 29 de março de 2021

São as comédias de março fechando o verão morno

 

Quase uma mistura de Quanto Mais Idiota Melhor com Austin Powers, As Férias Loucas de Barb & Star emula o estilo absurdo dos filmes protagonizados por Mike Myers nos anos 1990, enquanto cutuca as comédias românticas habituais. Porém, com as piadas recorrentemente chamando atenção para si mesmas boa parte da graça se esvai. Ao menos vale pela ousadia de sair do lugar comum e pelo talento cômico da dupla de atrizes-roteiristas Kristen Wiig e Annie Mumolo.

As Férias Loucas de Barb & Star (Barb and Star Go to Vista Del Mar), 2021




Eterno João Grilo, Matheus Nachtergaele sempre vai ter suas comédias sob a sombra de Auto da Compadecida. E Cabras da Peste, filme irregular que parece querer agradar a um público família, mas que acaba deixando escapar palavrões e humor negro, é só mais uma de inúmeras produções que estão separadas por um abismo do clássico baseado na obra de Ariano Suassuna.

Cabras da Peste (idem), 2021




Existem aquelas continuações que, lançadas décadas depois, acabam "estragando" o original. Para mim, Um Príncipe em Nova York 2 acabou se encaixando nesta categoria. Não por ser muito ruim ou muito inferior ao primeiro filme, que francamente nem é - está ali quase que de igual para igual. O verdadeiro pecado foi que me motivou a rever o de 1988 antes do lançamento deste novo e me fez perceber que, tirando aquelas cenas icônicas que ainda permaneciam na minha memória, ele nem era lá essa coisa toda. Tomara que não inventem continuação de O Rapto do Menino Dourado.

Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America), 2021


quinta-feira, 25 de março de 2021

ZRJL

(Contém SPOILERS de Liga da Justiça de Zack Snyder. E de Liga da Justiça de Zé Roberto)


Registrei aqui minha insatisfação com Liga da Justiça de Zack Snyder e era para ficar nisto. Assunto liquidado, bola pra frente. Mas como estou vendo um certo clamor pelo filme, e ainda um tal de #RestoreTheSnyderVerse, vou me delongar mais um pouquinho, pois acredito que o filme poderia ter sido muito bom, sim, e com um mínimo de alteração.

Pra começar, manter o filme sem uso de palavrões, não adicionar digitalmente sangue jorrando e não mostrar membros decepados. Um pouco de cor também não faz mal. Mas, o mais importante: entender e corrigir o Superman. Existem outros heróis sombrios ou adultos para serem explorados em outras franquias. Só há benefício em ainda deixar essa um pouco amigável. O mundo precisa disto.

E se o Flash pudesse interceder por nós e correr na velocidade da luz para fazer o tempo voltar (ou, melhor, o Superman clássico pudesse girar em torno da Terra e fazer o tempo voltar) para o momento da concepção da "visão original" do Snyder nos cinemas? (Vamos lá, o ideal mesmo seria um dos heróis gastar um pouco mais de energia e voltar lá na concepção do Homem de Aço pra coisa começar direito mesmo, mas pensemos pequeno). 

Imaginem só - não existe algo de 4 horas, mas dois filmes. 

O primeiro filme, sei lá, Liga da Justiça: A Ameaça Fantasma (ou talvez um outro título melhor), tem todo aquele bom desenvolvimento do Cyborg e do Lobo da Estepe subordinado ao Darkseid, etc, etc (e até Lois Lane indo tomar café em câmera lenta, tanto faz)... e termina quando a caixa mãe sugere que ressuscitem o Superman. Num 2017, pré Vingadores: Guerra Infinita, teria abalado a nerdaiada, com um baita gancho para a continuação. 

Daí, meses de expectativa depois, sai Liga da Justiça: Uma Nova Esperança (ou talvez um outro título melhor, pra evitar processos). 

Até poderia começar com a detestável cena de sonho que fecha o Snyder Cut atual (mas só porque o Snyder não abriria mão dela). Pronto, ali está criada a tensão para se devem ou não prosseguir mesmo com o plano. Ainda no primeiro ato tem toda aquela sequência do Superman acordando desorientado, indo pro Kansas etc. 

O segundo ato teria a escalada da ameaça, mas serviria fortemente como um arco de redenção da persona do Superman, saindo do cara amargurado criado pelo Snyder para o tradicional bonzinho, que luta pela justiça e ama a humanidade acima de tudo. E não só através da Lois Lane (batido, né?), mas também pela conexão com sua origem kryptoniana, sua mãe e as raízes na família Kent e o espírito de união com os demais da Liga. 

No terceiro ato ele já é o Superman de verdade e, sim, acaba tendo que desviar sua atenção do Lobo da Estepe para salvar um monte de civil e evitar destruição de prédios. Nada de cortar o chifre do cara com raio do olho. Mais uma vez, enquanto o Superman atua na separação da caixa com o Cyborg, os outros heróis têm um papel maior em derrotar o vilão. Mas sem decapitação. Que mandem o recado pro Darkseid de outra forma. 

O filme termina com um Superman pairando sobre a Mansão Wayne, mostrando gratidão de ter se encontrado de verdade com ajuda do Batman & cia., e claramente bem distante não só daquele do sonho que Bruce julgava ser premonitório, fechando o arco deste filme, mas também muito diferente do Superman dos filmes anteriores do Snyder, concluindo sua jornada para se tornar o herói que conhecemos. Verdadeiramente renascido.

No meio dos créditos, mantida a cena em que o Superman sorridente aposta por diversão quem é mais rápido: ele voando ou o Flash correndo.

Aí, sim. Se o Snyder Cut tivesse sido algo próximo disto, eu também entraria nessa de #RestoreTheSnyderVerse. Até lá sou mais pra lançar um #RestoreTheSuperheroesWeKnowAndNeed.


terça-feira, 23 de março de 2021

Liga da Arbitrariedade

PRÓLOGO

Não sou das melhores pessoas pra opinar sobre Liga da Justiça de Zack Snyder porque, para começar, eu nunca torci para esta versão existir. Sentia que era desnecessária, simplesmente porque não achei o Liga da Justiça, do Joss Whedon lançado em 2017, tão ruim assim. Foi bom o suficiente para algo tão esperado? Não. Mas tampouco foi uma aberração como a internet passou a pintar depois. Pelo contrário, ele acertou num ponto importantíssimo para mim: Superman.

Cresci sob a imagem do Superman de 1978, materializada por Christopher Reeve e reforçada por vários quadrinhos da minha infância e adolescência (e pelos desenhos dos Super Amigos!). Todavia, o personagem que Zack Snyder apresentou em Homem de Aço e Batman v. Superman - A Origem da Justiça definitivamente não foi o Superman que eu conhecia, nem era o que eu acredito que deveria ser. O Liga da Justiça de Whedon fez um esforço para corrigir isso e me agradou. Foi bacana demais passar a ver um Superman como no prólogo, feliz e sendo um modelo pra crianças, como no clímax, mais preocupado em salvar civis do que eliminar o vilão, e como no epílogo no meio dos créditos, fazendo uma aposta por diversão de quem é mais rápido: ele voando ou o Flash correndo (quase que uma piada interna com os fãs da DC). Vi o filme apenas uma vez, confesso, mas não me esqueço da vontade de me levantar e aplaudir a cena em que Flash empurra o carro de uma família russa para longe do perigo, só para depois dar de ombros ao perceber que Superman passa voando carregando um prédio inteiro. Impagável.

CAPÍTULOS 1 AO 6

Tudo isso destoa dos outros dois filmes anteriores e para mim foi, antes tarde do que nunca, uma correção de rota necessária. Esse Liga da Justiça "novo" restabelece o tom dos e a sintonia com os antecessores, faz mais sentido como uma trilogia e talvez até seja mesmo ligeiramente melhor. Mas eu gosto menos.

As melhorias narrativas ajudam, com um pouco mais de contexto e histórias de fundo, inclusive dando ao vilão motivações mais palpáveis (seu visual ser mais pontudo e os efeitos da sua composição digital estarem melhores são, francamente, mero detalhes). 

Só que algumas novidades não emplacam, como o lance confuso do sonho/linha temporal alternativa (?) e a ponta de um outro membro recorrente da Liga, que surge só para desfazer uma das poucas cenas emotivas e para aparecer (sem propósito) nos últimos segundos. Sem falar que agora o filme é pra gente grande.

Sangue jorrando, membros decepados, um "f***" aqui e lá e uma paleta de cores mais sóbrias não tornam o filme "mais maduro". Apenas expõem a intenção de Snyder de se distanciar da injustiçada (vejam só) versão anterior e de forjar autenticidade à sua "visão original". Que, francamente, com todo esse esforço para ser censura 'R' (não recomendado para menores de 17) e mais suas quatro horas de duração, nunca teria sido lançada nos cinemas em 2017.

E ...SPOILER... é difícil de aceitar Aquaman atravessando seu tridente no tórax do Lobo da Estepe para, na sequência, Mulher-Maravilha decapitá-lo. Totalmente fora do que estes heróis inspiravam e deveriam continuar inspirando em novas gerações. Já há, Snyder, coisas como The Boys e seu próprio Watchmen - O Filme para satisfazer este seu anseio. 

O fato é que o longa é um produto de mimimi (dos fãs), de ego (de Zack Snyder) e de, claro, interesse comercial. Vale somente para quem é muito fã da DC ou quer muito formar uma opinião, já que não deixa de ser, pelas circunstâncias e repercussão, uma realização de grande relevância cultural. 

EPÍLOGO

Volto ao Super. Quando eu tinha 3 anos, minha mãe me deu uma fantasia azul, 'S' dourado no peito, cueca por cima da calça, capa vermelha. Aquilo me tornava feliz e eu achava que podia voar e sair evitando desastres e impedindo que vilões fizessem maldades com as pessoas. Hoje em dia se eu der fantasia de Superman pro meu filho de 3 anos ele se tornará angustiado e vai querer quebrar o pescoço do coleguinha vestido de Zod ou cortar a orelha do fantasiado de Lobo da Estepe.

Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League), 2021




CENA PÓS-CRÉDITOS


sexta-feira, 5 de março de 2021

Is this real life, is this just fantasy?


Com temas como finitude da vida, velhice, perda de memória, As Mortes de Dick Johnson embarca numa jornada de reflexão tocante, mas até de forma leve e acessível. Só que o mérito do filme está mais pelo que acaba apresentando do que pelo que tentou ser. A documentarista Kirsten Johnson claramente sai na busca (egoísta talvez) de minimizar ou eliminar o seu luto futuro, mas acaba entregando uma grande homenagem ao seu pai, expondo no processo sua pessoa generosa e cheia de gratidão.

As Mortes de Dick Johnson (Dick Johnson Is Dead) 2020




Nunca fui muito fã de documentários sobre bichos, talvez por simples falta de apego ao assunto mesmo. Mas, com belíssimas imagens subaquáticas e um registro encantador focado em uma criatura específica e não no comportamento geral da vida selvagem, Professor Polvo é uma das exceções à regra. O filme cativa, mesmo que não consiga fazer jus ao título e falhe em estabelecer a ponte do "aprendizado" com aquele polvo. Está mais para um salto do que uma passagem lógica de A para B.

Professor Polvo (My Octopus Teacher), 2020





A recomendação que recebi de In & of Itself não passou de "é um documentário que é melhor assistir sem saber nada sobre". Mais para uma apresentação solo no palco de teatro do que um documentário tradicional, o registro é algo difícil de se descrever e, ainda assim, é fascinante. Realmente tentar explicar ou preparar alguém previamente é um grande desserviço. Apenas vá e confie uma hora e meia de sua vida a esta "história honesta - tanto real, quanto imaginada" de Derek DelGaudio. 

In & of Itself (Derek DelGaudio's In & of Itself), 2021