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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Balanço dos heróis


Perdi boa parte das adaptações de heróis dos quadrinhos deste ano até agora, ora por preguiça após a má recepção (Shazam! Fúria dos Deuses, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania), ora por uma mistura de desleixo com falta de tempo (Besouro Azul, desculpe aí Bruna Marquezine!)

Mas os que resolvi encarar renderam um dos melhores filmes do ano, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, e mais outros três acima da média - embora dois mais longos do que deveriam (Guardiões da Galáxia Vol. 3 e The Flash).

O que tem a duração enxuta e apropriada é a mais nova releitura dos heróis no meio casco, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante. Com uma animação belíssima (mesmo quase todos humanos sejam propositalmente "feios"), o longa traz os personagens para uma dinâmica muito atual (usam celulares o tempo todo, fazem tik toks etc) em uma modernizada natural e bem-vinda. E se, em contraponto à séria animada do final dos anos 80 ou até mesmo o live-action de 1990, não se ocupa com o desenvolvimento dos personagens individualmente (basicamente restritos às cores de suas faixas, às suas armas e, agora, peculiaridades físicas), acerta em criar uma entidade realista como um grupo de adolescentes, recorrentemente falando todos ao mesmo tempo, numa identidade quase que de bando.

Confesso que (além do Aranhaverso) somente As Tartarugas vi no cinema. Portanto, o tanto que "perdoei" a qualidade técnica do Flash (tão mal falada, principalmente numa sequência inicial envolvendo bebês) pode estar justificado por eu ter praticamente o encarado como um lançamento direto para o streaming. O fato é que é um filme bastante divertido (incluindo a tal cena dos bebês), que tem um arco tocante e participações especiais de aplaudir de pé. Sem dúvida um dos melhores da DC em um booom tempo (sempre, claro, excluindo desse tipo de comparação a trilogia Cavaleiro das Trevas do Nolan - outro nível).

E qualidade é algo que até sobra no vol. 3 dos Guardiões, bem como trilha sonora e emoção. Ainda que isto seja um padrão Marvel, o que mais empolga, nessa que é a melhor trilogia dentro do MCU, é justamente o quanto não se parece com um padrão Marvel. Parte porque simplesmente está menos para um filme de super-herói e mais uma ópera espacial e outra boa parte porque James Gunn conseguiu imprimir seus toques particulares para criar algo coeso e singular (ainda que amplamente ligado ao resto do MCU).


As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem), 2023




The Flash (idem), 2023




Guardiões da Galáxia Vol. 3 (Guardians of the Galaxy Vol. 3), 2023


segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Barbienheimer (e uma pitada não intencional de ambos)


O mais direto dos filmes de Christopher Nolan e sem, portanto, firulas além de saltos constantes para (e de flashbacks), Oppenheimer ainda consegue transformar o que seria uma cinebiografia básica sobre "homens conversando em salas fechadas" em um verdadeiro feito cinematográfico. Parte disso se deve às imposições técnicas do cineasta, sobretudo quanto ao ineditismo de se filmar parcialmente em película 65mm IMAX preto-e-branco (nas poucas cenas que não são sob o ponto de vista do protagonista) e quanto à insistência de fazer efeitos especiais práticos (apesar de que uma tomada se beneficiaria imensamente de uma transição mais lenta por CGI). Outra parte, claro, recai sobre às atuações de um elenco invejável no geral e em um Cillian Murphy carregando o peso do mundo (ou do potencial fim do mundo) em suas costas.

Oppenheimer (idem), 2023





Mais do que por seus sets inspirados e por seus diálogos genuinamente engraçados em sua maior parte, Barbie surpreende por conseguir ser ao mesmo tempo uma sátira e um drama, uma crítica e uma autopromoção. Alternando gags visuais e comédia pastelão com momentos reflexivos e temas como crise existencial e, sem sutilezas, o patriarcado, a história logo se desvia da dose inicial de Uma Aventura Lego, toma seus próprios rumos em cores vibrantes, mas termina mais em tons pasteis.  Mesmo com tanto a dizer, inclusive em um discurso expositivo no terceiro ato, a mensagem final parece opaca - sintoma de um filme em que Ken tem mais arco que a personagem-título.

Barbie (idem), 2023





Antes de um filme de Wes Anderson se sabe exatamente o que virá do ponto de vista de estética visual e, ainda que nesta altura do campeonato já seja óbvio (e, arrisco dizer, batido), costuma ser um deleite para qualquer amante do cinema. No entanto, o que diferencia (ou eleva) uma obra do diretor é se sob a camada do estilo há uma história coesa ou emocionalmente cativante (como em Moonrise Kingdom) e/ou personagens peculiares em situações divertidas (como em O Grande Hotel Budapeste). Seu mais recente, Asteroid City, não tem nada do primeiro mas, por alívio, tem um certo tanto do segundo. É um Anderson padrão pra bom, nada de outro mundo.

Asteroid City (idem), 2023