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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Atuações marcantes, resultados variados

 


Não só por utilizar quase todo um elenco de não atores e se aproveitar de localidades reais, mas principalmente pela estrutura da narrativa, Nomadland parece um documentário disfarçado de ficção. Este formato potencializa a empatia pelo longa mais pelas histórias e relatos dos "personagens" secundários do que por mérito da jornada da protagonista (em incrível e absorta atuação de Frances McDormand). Ao mostrar um grupo com verdadeiro senso de comunidade, mesmo que em encontros temporários e rumos distintos, a cineasta Chloé Zhao não necessariamente defende o "estilo de vida", muitas vezes retratado simplesmente como uma escolha consciente ou como uma necessidade que acabou virando gosto. Mas, tirando uma única referência falada sobre a natureza selvagem e um susto com a proibição de pernoitar num estacionamento, ela também não expõe as ameaças e perigos externos de se viver sozinha numa van. Um estudo sutil sobre personagem e um retrato pontual dos efeitos colaterais do capitalismo, Nomadland poderia ser mais. E mais cinematográfico (apesar da bela fotografia).

Nomadland (idem), 2020




Meu conhecimento dos Panteras Negras sempre foi restrito ao pouco que estudei no colégio e às vezes em que apareceram ou foram referenciados em filmes diversos. Só que por meio de nenhum deles me lembro de ter "tido acesso" ao movimento como em Judas e o Messias Negro, longa-metragem de ficção que também não se esquiva de mostrar o passado sombrio do FBI. Estruturado como um thriller de crime, mas fortemente agindo como uma cinebiografia tradicional, a produção consegue contextualizar muito bem o espectador limitado, sem cair no didático ou expositivo. Há um pouco de perda de ritmo no segundo ato, mas nada que ofusque o impulso do primeiro nem o impacto do terceiro.

Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah), 2021




A premissa do anti-herói inicialmente detestável, mas que acaba conquistando o público após enfrentar um mal maior e poder mostrar algumas características relacionáveis, ou até nobres, não é nova. Eu Me Importo tenta isso, mas se dedica tanto ao "detestável" da protagonista, que a parte do "conquistar o público" nunca chega. Apesar da boa atuação de Rosamund Pike, não há a segunda camada de "características relacionáveis ou até nobres" na personagem, que chega ao ponto de menosprezar as ameaças à sua volta e sequer temer por sua vida.  E se ela não se importa, eu também não me importo.

Eu Me Importo (I Care a Lot), 2021




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Webinar - Planejamento

Pros poucos de vocês que insistem em achar que eu deveria fazer um canal no YouTube ou um podcast, compartilho o video abaixo para provar que não levo muito tino pra coisa, não. (risos)

No último dia 11 de fevereiro participei de um webinar da PUC Minas para motivar as pessoas para uma Pós-graduação em Planejamento. Minha aparição é em 14min30s:


https://www.youtube.com/watch?v=7vYaUS842Fc

E quem quiser me ver sofrer um pouco mais, ainda respondo a uma pergunta em 1h06min.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Quando protagonistas não abandonam o passado...


A estreia na direção de Emerald Fennell (mais conhecida por interpretar Camilla Parker Bowles na série The Crown), Bela Vingança, é uma interessante subversão do gênero "filme de vingança" e que tem muito a dizer. Sua temática central (a cultura do estupro) é pesada, mas Fennell, que também ataca de roteirista, consegue em uma roupagem de suspense/ entretenimento expor a complexidade do assunto, com seus vários níveis de percepções,  reações e inações, sem ser insensível, melodramática e nem apelar para imagens fortes. Tirando a "tacada final" na conclusão da história, tudo parece plausível e serve como um excelente gatilho para iniciar discussões e reflexões.

Bela Vingança (Promising Young Woman), 2020




Não é à toa que Os Pequenos Vestígios, que se passa no início da década de 1990, se pareça muito (tanto em tom, quanto em estilo e enredo) com os thrillers de serial killers lançados naquela época: o cineasta John Lee Hancock escreveu o roteiro em 1993, mas só teve a oportunidade de dirigir agora. E parece que não se deu ao trabalho de revisar nem atualizar o que estava no papel. Tirando a atuação de Jared Leto, não há destaque algum neste filme que parece apenas mais um genérico do gênero. Talvez se tivesse sido lançado quando foi escrito a recepção seria melhor. 

Os Pequenos Vestígios (The Little Things), 2021




Nem tão cinematográfico e satírico quanto seu "primo", Quem Quer Ser Um Milionário?, O Tigre Branco também emprega contrastes sociais e mudanças de tom (alternando comédia, drama e violência) para trazer a "vida na Índia atual para o público ocidental moderno". Buscando uma clara mensagem anticapitalista, o filme peca em já mostrar para o público a versão mais velha e "condenada" do protagonista, tão carismático e esperançoso nos flashbacks - que compõem a maior parte da produção. A atuação de Adarsh Gourav é radiante e ver o desfecho do seu personagem somente no final teria trazido mais impacto à história e nos poupado de interrupções chatas na narrativa.

O Tigre Branco (The White Tiger), 2021




terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Escavações profundas e superficiais


Em termos de narrativa, caracterização e construção de conflitos, A Escavação pode facilmente ser rotulado de drama à moda antiga. O que há de diferente (e moderno) no filme é sua edição. Algumas pequenas cenas são montadas de forma não linear, dando uma sobreposição do antes e do depois, e muitos diálogos são construídos 'em off', em cima das reações dos personagens ao que está sendo dito pelo interlocutor. Tudo isso serve não somente para "economizar" tempo em tela e deixar o filme enxuto, mas principalmente para elevar a emoção das ações e de seus desdobramentos. Uma boa descoberta da Netflix.

A Escavação (The Dig), 2021





É de assustar que Doug Liman, um dos diretores de ação mais sólidos que se tem por aí hoje (vide A Identidade Bourne e No Limite do Amanhã), tenha dirigido um filme tão desinteressante e arrastado quanto Locked Down. O roteiro preguiçoso simplesmente acredita que ambientar a história no fechamento das cidades em 2020 e colocar os personagens (vários atores conhecidos do público) em situações parecidas com as que muitos viveram recentemente são suficientes para prender a atenção e tornar a obra relevante. Dica: não são.

Locked Down (Locked Down), 2021



Boas atuações e um senso de tensão latente permeiam o estranho Black Bear que é praticamente dois filmes em um, com uma conexão óbvia e clara, mas ao mesmo tempo muito confusa e, talvez, desproposital. A primeira parte, como é chamada, é um drama direto, sobre relacionamentos, enquanto a segunda parte se aprofunda no tema, agora utilizando uma metalinguagem curiosa e interessante, mas que resulta em muito pouco. Talvez o urso signifique alguma coisa que meu desconhecimento de psicologia ou minha baixa sensibilidade para filmes-arte me permita captar, mas a história poderia ter se equipado um pouco mais para visitantes de pouca bagagem, como eu.

Black Bear (idem), 2020